Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Ainda que o sol se recuse a brilhar... obrigado aves!

Veste-amarela no Comandaí. Foto: DAM.
* por Dante Andres Meller
Quando pensamos em ir ao campo, sempre torcemos por um dia "bonito", agradável, com tempo "bom".

Bom... nem sempre o sol mostra sua cara. Às vezes pegamos um dia "cinza" mesmo, com vento desfavorável e frio.

Saber encontrar beleza nesses dias é também um desafio... um desafio que guarda alegrias diferentes, que brotam da terra, que surgem do brilho dos campos, das águas, das flores, dos animais, das amizades e, claro, das aves.

Chegamos cedo na Cascata do Comandaí, local onde marcamos nossa saída mensal de outubro. Como havia chovido na noite anterior, o dia estava meio cinza, os campos úmidos, e havia um vento frio desanimador. Tínhamos previsto uma caminhada por uma área de campo aberto, nos arredores da cascata, e assim que botamos o pé na cascata o dia deixou de ser tão cinza assim...

Cascata do Comandaí. Foto: DAM.

Já na área da cascata começaram a aparecer algumas aves, e podemos dizer que os primeiros foram os guaxes, que possuem uma colônia reprodutiva em uma araucária nas cercanias da moradia local. Logo a seguir um bando de taperuçus também foi avistado. Essa é uma das aves mais significativas do local, já que costumam pousar na cascata, onde pernoitam e também constroem seus ninhos.

Ninhos de guaxe (Cacicus haemorrhous) nas cercanias da moradia da Cascata do Comandaí. Foto: DAM.

Taperuçu-velho (Cypseloides senex). Foto: DAM.

Mais adiante, já na área dos campos, duas lagoas temporárias foram alvo de alguns encontros legais. Além de uma sensação muito agradável, a paisagem florida dos campos dava efeitos legais na composição das imagens. Algumas aves nos arredores dessas lagoas permitiram certa aproximação e renderam registros legais.

Corucão (Chordeiles nacunda). Foto: Paulo B. Rodrigues.

Marreca-pardinha (Anas flavirostris) preparando-se para pousar. Foto: DAM.

Caminhamos um bom tempo pelos campos floridos do Comandaí. Havia uma grande quantidade de tipios, alguns caminheiros e outras espécies campestres. Apesar do vento frio, a paisagem era muito bonita, o que dava ânimo extra ao passeio.

Campos floridos próximo à Cascata do Comandaí. Foto: DAM.

Depois da longa caminhada, chegamos a um banhado inédito para nós, sendo esta a primeira vez que íamos até esse local para observar aves. Por ser relativamente extenso e bem preservado, esperávamos encontrar alguma coisa interessante nesse banhado.

Banhado no Comandaí. Foto: DAM.

Algumas espécies mais comuns começaram a aparecer, como o curutié. Um carão vocalizando também dava um bom sinal da diversidade, mas quando as tesouras-do-brejo se mostraram, e ao longe pontinhos amarelos em sua companhia, não tivemos outra escolha, resolvemos entrar banhado adentro, literalmente.

Curutiés (Certhiaxis cinnamomeus). Foto Paulo B. Rodrigues.

Colega Alfieri mostrando o resultado prático da nossa aventura em buscas dos veste-amarelas no banhado. Foto: Paulo B. Rodrigues.

Claro que nem todos se embretaram que nem nós, mas andar pelos campos alagados ao menos teve uma boa recompensa. Diversas narcejas levantaram voo quando estávamos caminhando, e ficaram sobrevoando e emitindo seus zunidos marcantes.

Também encontramos os tais pontinhos amarelos, que na verdade eram um grupo de veste-amarelas, bela espécie ameaçada de extinção que depende de banhados como este para sobreviver.

Voo da narceja (Gallinago paraguaie). Foto: Paulo B. Rodrigues.

Veste-amarela (Xanthopsar flavus). Foto: Paulo B. Rodrigues.

Na volta, um descanso restaurador aos "pés" da Cascata do Comandaí...

Grupo Ave Missões na Cascata do Comandaí. Foto: Pedro K. Rodrigues.

Saindo do Comandaí, fomos para o nosso almoço, que havia sido programado para o Quiosque Passo, à beira da RS 344 em Giruá. O local é muito acolhedor, com uma arquitetura muito convidativa, telhado verde e ótimos produtos para consumo. Particularmente, recomendo o almoço e o suco de butiá, além de excelentes cervejas artesanais que são produzidas na região.

Além disso, também há uma trilha que leva a outra cascata, um dos motivos por termos escolhido esse local para o almoço.

Grupo Ave Missões no Quiosque Passo em Giruá. Foto: Márcia K. Rodrigues.

Cascata do Passo das Pedras, em Giruá. Foto: DAM.

Na volta para casa fomos parando de lagoa em lagoa só pelo acaso de encontrarmos algum maçarico migratório vindo da América do Norte. E quase no fim do caminho encontramos um casal de maçarico-solitários, que permitiu uma boa aproximação e rendeu algumas fotos legais.

Maçarico-solitário (Tringa solitaria). Foto: DAM.

Além dos veste-amarelas, que não eram vistos em Santo Ângelo há cerca de um ano, mais de 90 outras espécies foram registradas no dia, muitas apenas pela vocalização.

Enfim, mesmo que o sol não apareça, a vida sempre tem um brilho especial para nos mostrar... basta procurar, basta esperar. Há sempre algo guardado, escondido, em um local remoto, esperando para ser encontrado.

Simplesmente por contemplá-las, as aves nos fazem sentir especiais. Obrigado!
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8 comentários:

  1. Delícia de saída e delícia de relato! Fotos maravilhosas, mostrando mesmo a leveza e descontração da atividade!
    Um abraço pessoal!

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  2. Novamente um belíssimo relato de um dia cheio de emoções. Parabéns a todos que procuraram a beleza neste dia cinza. Abração!

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  3. Lindas fotos e ótimos registros , parabéns ! Belas cascatas e campos !!!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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  4. Beleza de passeio e belas fotos que vocês fizeram. Abraços.
    Rafael Ritter

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