Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

terça-feira, 26 de abril de 2016

Home birding - passarinhando em casa

Gaturamos em jardim de casa. Foto: DAM.
* por Dante Andres Meller
Sinceramente, não sei se o termo home birding existe, mas achei oportuno empregá-lo aqui para frisar o quanto passarinhar em casa pode ser interessante e agradável.

Claro que para uma boa passarinhada, um jardim atrativo para as aves a casa deve ter, caso contrário a atividade teria pouco sucesso.

Estar atento às aves que convivem conosco dia-a-dia é uma das maneiras mais eficientes de se tornar um bom observador de aves, lembrando que sempre temos algo a aprender, mesmo daquelas espécies mais comuns.

Sabe aquela coisa de acordar cedo, colocar roupas camufladas, botas desconfortáveis e sair para longas caminhadas em meio à mata ou ao campo? Então, não é nada disso que estou falando aqui! Passarinhar em casa é você de chinelo, bermuda e camiseta chamativa mesmo. Entre uma ave e outra tem um chimarrão (ou café), uma leitura agradável, ou mesmo um trabalho em frente ao computador. A única coisa que não pode faltar obviamente são as aves, e o teu senso de atenção a elas.

Enquanto escrevia esse post, ouvi o chamado de alguns gaturamos, larguei tudo, peguei a máquina e corri para o jardim, estavam lá gaturamo-rei, fim-fim e gaturamo-bandeira, dando chances para boas fotos. Gaturamo-bandeira (Chlorophonia cyanea) em erva-de-passarinho, em jardim na cidade de Derrubadas. Foto: DAM.

Um jardim pode ser convidativo para a avifauna por diversos motivos, a seguir listo e exemplifico alguns fatores e casos.

Localização: o fato de estar perto de uma mata pode fazer com que o jardim seja visitado por certas espécies florestais, ocupando seus poleiros eventualmente.

Algumas espécies são incomuns e aparecem como que de passagem apenas. É bom estarmos atentos às suas vozes para que não percamos as poucas oportunidades que aparecem. Bentevizinho-de-penacho-vermelho (Myiozetetes similis), em jardim na cidade de Derrubadas, percebido após vocalizar. Foto: DAM.

Vegetação atrativa: certas árvores frutíferas e flores são particularmente atrativas para a avifauna.

No inverno algumas aves frugívoras tendem a se aventurar pelos arredores das florestas, visitando pomares e jardins de casas próximas. Isso ocorre por conta da menor disponibilidade de frutas na mata nessa estação, enquanto nos pomares existem diversas árvores atrativas frutificando. Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) em grandiúva (Trema micrantha), em jardim na cidade de Derrubadas. Foto: DAM.

Algumas plantas ornamentais dão flores muito atrativas para beija-flores, outras não. Recomendo o livro "Aves brasileiras e plantas que as atraem" para conhecer quais as plantas são boas para se ter em casa. Beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura) em odontonema (Odontonema tubaeforme), em jardim na cidade de Derrubadas. Foto: DAM.

Chamariscos artificiais: comedouros e bebedouros também são muito eficientes para atrair determinadas espécies.

Um comedouro pode atrair muito facilmente certas espécies, variando conforme o tipo de alimento disponibilizado. Gralha-picaça (Cyanocorax chrysops) comendo amendoins na propriedade dos Elsenbach, no entorno do Parque Estadual do Turvo. Foto: DAM.


Beija-flores também são muito atraídos por bebedouros, para saber mais sobre o assunto recomendo o post "Bebedouros para beija-flores...". Beija-flor-de-veste-preta (Anthracothorax nigricollis) no jardim da casa da família Kuhn, em São Paulo das Missões. Foto: DAM.

Presença de habitats favoráveis: determinadas espécies visitarão ou mesmo serão residentes do jardim pelo fato de haver um habitat disponível para elas.

Em um jardim com ambientes variados podem ocorrer também outras espécies que não são atraídas por frutíferas, flores ou comedouros. Como exemplo não poderia deixar de citar o caso do amigo Pedro Sessegolo, que já fez diversos registros inusitados no jardim de sua residência em Cruz Alta, incluindo aves como o sovi, a coruja-orelhuda, papagaio-charão e o petrim, que é residente do local (veja a lista). Petrim (Synallaxis frontalis) no jardim dos Sessegolos, em Cruz Alta. Foto P. Sessegolo.

Viajar é legal, é excelente para conhecer novas espécies, fazer lifers, adquirir novos conhecimentos, etc. Apesar disso, penso que não seja o crucial para ser um bom observador de aves. Há uma série de aspectos ainda desconhecidos para nós, de tantas espécies que vivem em nosso meio, que torna desnecessário ir ao Pantanal ou à Amazônia para se aprofundar na prática de observação de aves. Ainda que valha muito a pena viajar para tais lugares, pode-se observar aves sempre, sem sequer sair de sua cidade, ou em alguns casos, de sua casa! As aves estão aí, cheias de lições de vida ocultas aos nossos olhos... basta enxergarmos.

---------------------------------------------------------------------------------
Veja também:

---------------------------------------------------------------------------------

8 comentários:

  1. Muito bom Dante. Nosso dia-a-dia é cheio de cores e sons e muitas vezes não prestamos atenção.

    ResponderExcluir
  2. Ótima postagem , parabéns ! Lindas fotos e belo texto ! Às vezes não percebemos a grande riqueza de aves que vivem em nosso entorno !!!

    Ass.: Lucas N de Porto Alegre - RS

    ResponderExcluir
  3. Bela postagem Dante. A fauna aqui é muito grande porque sempre tem abrigo e comida. Terminaram agora as goiabas e caquis, mas logo começam os abacates e as frutas citricas. Até o Kiwi eles aprenderam a comer. A única fruta que nao é consumida é a Carambola, porque será? Valeu pela lembrança do meu jardim. Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pela colaboração Pedro! Não faço ideia do porquê não comerem carambola... Grande abraço!

      Excluir
  4. Outro belo relato Dante. Mas quando a gente mora em apto, só resta sair pra algum lugar e observar pássaros. Ou visitar Pais, sogros, irmãos, cunhados, no interior. Aí sempre aparece algum bicho.
    Gaturamo Rei já virei o Estado e alguns lugares pelo país e ainda não encontrei. Vê-los no pátio de casa..... não tem preço né!!!!
    Quanto à carambola, anos atrás recebi um email com um texto sobre ela. Dizia que é extremamente nefrotóxica se consumida in natura. Não sei, lá nos meus Pais tem um pé e sempre como uma ou outra.......!?!?!?!
    Abraço
    RAFAEL RITTER

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo plenamente com você, Rafael, quando se mora em apartamento o jeito é ir a campo mesmo... Obrigado pelo comentário! Abraço

      Excluir