Garruchos LF

Bagageiro em Garruchos. Foto: DAM.

* por Dante Andres Meller

Em relação às aves, Garruchos é carregado daquele ar de mistério: do pouco que se conhece, sabe-se que muito é especial.

É um município que traz consigo a fama de registros antigos raros, assim como a expectativa de registros atuais relevantes.

É verdade que Garruchos está no limite da região das Missões, mas tenho certeza de que a partir de agora ocupará um lugar especial nos destinos do nosso grupo.

Grupo Ave Missões após o registro do bagageiro. Foto: Márcia Koch.

Já fazia certo tempo que alimentávamos a vontade de visitar Garruchos. O município foi visitado no passado pelo ornitólogo Willian Belton, que fez registros interessantíssimos. Depois disso, no entanto, quase ninguém mais voltou seus olhos de observador para lá.

Neste fim de novembro, enfim, o grupo Ave Missões visitou o município de Garruchos. Foi uma saída exitosa, com 10 participantes e cerca de 120 espécies registradas (confira a lista completa), com destaque especial para o registro inédito do bagageiro. Junto a este, outros dois registros foram novos para a região noroeste também (asa-branca e dragão).

Na estrada rumo a Garruchos

Nosso ponto de encontro foi sábado de manhã em Santo Antônio das Missões, onde logo que caímos na estrada de chão que leva a Garruchos começamos a passarinhar. O dragão, mencionado acima, foi a espécie que abriu a passarinhada, já como registro novo para o noroeste. A seguir foram aparecendo mais e mais coisas interessantes, como canário-do-campo, tachã, suiriri-cinzento e gavião-de-rabo-branco melânico. Também foram registrados biguatinga e petrim. Na volta, nesta mesma estrada, registramos garça-moura, marreca-pardinha e andorinha-de-dorso-acanelado.

Grupo Ave Missões na estrada entre Santo Antônio das Missões e Garruchos. Foto: Ingrid Sessegolo.

Dragão (Pseudoleistes virescens) em Santo Antônio das Missões. Foto: Charles Boufleur. 

Canário-do-campo (Emberizoides herbicola). Foto: DAM.

Tachãs (Chauna torquata) em Santo Antônio das Missões. Foto: DAM.

Suiriri-cinzento (Suiriri suiriri) em Santo Antônio das Missões. Foto: Paulo Rodrigues.

Gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus) melânico, sendo espantado por um bem-te-vi. Foto: Charles Boufleur.

Um rico banhado em Garruchos

Já em território 'garruchense', um extenso banhado nos fez parar para apreciar o que pudesse aparecer. Tiramos a sorte grande, além de um curioso sabiá-do-banhado leucístico, também registramos veste-amarela e um especialíssimo encontro com o gavião-cinza. Na volta, neste mesmo banhado, ouvimos cantar a sanã-carijó e o perdigão.

Grupo Ave Missões à beira de banhado em Garruchos. Foto: Márcia Koch.

Sabiá-do-banhado (Embernagra platensis) leucístico. Foto: Charles Boufleur.

Veste-amarela (Xanthopsar flavus) macho. Foto: Paulo Rodrigues.

Gavião-cinza (Circus cinereus) macho. Foto: Alfieri Callegaro.

Gavião-cinza (Circus cinereus) macho. Foto: Alfieri Callegaro.

No aconchego da Fazenda LF

Enfim chegamos à Fazenda LF, onde nosso anfitrião estava nos aguardando. Fomos muito bem recebidos, ficando à vontade como se estivéssemos em casa. Além do mais, a sede da fazenda situa-se numa coxilha com uma ampla vista, onde diversas aves podem ser avistadas. Portanto, ao mesmo tempo em que conversávamos, também ficamos de olho no que estava voando aos redores...

Grupo Ave Missões confraternizando com o anfitrião cruzaltense Luiz Froner. Foto: Márcia Koch.

Gavião-do-banhado (Circus buffoni) macho. Foto: DAM.

Urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus). Foto: DAM.

Cabeça-seca (Mycteria americana). Foto: DAM.

Asa-branca (Dendrocygna autumnalis). Foto: Pedro Sessegolo. 

Matas à beira do rio Uruguai

Após nos acomodarmos na LF, resolvemos passarinhar à tarde pelas matas da fazenda. Fomos em direção ao rio Uruguai, onde encontramos aves tipicamente florestais, com algumas boas surpresas.

Rio Uruguai em Garruchos. Foto: Ataiz C. de Siqueira.

Tangará (Chiroxiphia caudata) macho. Foto: Alfieri Callegaro.

Guaracava-cinzenta (Myiopagis caniceps) macho. Foto: Charles Boufleur.

Miudinho (Myiornis auricularis). Foto: DAM.

Estalador (Corythopis delalandi). Foto: Charles Boufleur.

Percorrendo a 'savana' de pau-ferro

Um dos ecossistemas mais interessantes que há em Garruchos são as formações de pau-ferro. É uma formação diferenciada, assemelhando-se meio que a uma savana ou mata aberta. Neste dia fazia bastante calor, e sentimos na pele o clima seco deste ambiente de solo raso. Foram registradas várias aves associadas a este tipo vegetacional, como a seriema. Na transição da área de pau-ferro para a mata estacional, avistamos também um anambé-branco-de-rabo-preto e ouvimos alguns bugios. À noite alguns de nós até voltaram ao local, mas nada além de um zorrilho foi encontrado.

Grupo Ave Missões caminhando pela savana de pau-ferro na Fazenda LF, Garruchos. Foto: Márcia Koch.

Cactus no afloramento rochoso. Foto: Ataiz C. de Siqueira.

Bananinha-do-mato ou caraguatá-bananinha (Bromelia antiacantha). Foto: Ingrid Sessegolo.

Barulhento (Euscarthmus meloryphus). Foto: DAM.

Saíra-de-chapéu-preto (Nemosia pileata) macho. Foto: DAM.

Pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus lineatus) macho. Foto: Charles Boufleur.

O aguardado 'momento inesperado'

Não há dúvidas de que a motivação para irmos a Garruchos provinha também daquele fator surpresa, daquela expectativa de que algo raro poderia aparecer. Chegamos até a levantar algumas possibilidades... basicamente aves que já foram registradas no outro lado do rio, mas que ainda não possuíam registros no Rio Grande do Sul. Uma delas estava lá aguardando ser descoberta...

Bagageiro (Phaeomyias murina). Foto: DAM.

Grupo Ave Missões observando o bagageiro. Foto: Ingrid Sessegolo.

Ouça a gravação feita, no WikiAves

Pelos banhados da LF

O dia de domingo amanheceu com fortes chuvas. Depois de tomarmos um café da manhã prolongado, assim que a chuva deu uma trégua fomos conhecer um banhado da fazenda. Apesar da ameaça constante da chuva voltar conseguimos tirar um tempo à beira do banhado e fazer bons registros. Além das espécies fotografadas, destacaram-se também um grupo de veste-amarelas e uma tesoura-do-brejo, além de um sapinho-de-barriga-vermelha que encantou alguns de nós.

Chuva se armando em Garruchos. Foto: Márcia Koch.

Caboclinho-branco (Sporophila pileata) macho. Foto: Pedro Sessegolo.

Coleiro-do-brejo (Sporophila collaris) macho. Foto: DAM.

Casal de graveteiros (Phacellodomus ruber). Foto: Márcia Koch.

Carão (Aramus guarauna). Foto: Charles Boufleur.

Sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus). Foto: Ataiz C. de Siqueira.

Aquela sensação de querer voltar

O silêncio das missões, falquejado no resguardo dos campos fronteiriços, é harmonia musical não apenas para o canto melodioso das aves, mas também para celebrar amizades que a terra missioneira cultiva.

Deixamos aqui nosso agradecimento de coração ao Luiz e a  todo o pessoal da Fazenda LF, que nos acolheram como amigos. Que Deus os abençoe, amigos, até uma próxima!

Grupo Ave Missões confraternizando com o anfitrião Luiz Froner e demais funcionários da Fazenda LF. Foto: Márcia Koch.

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Veja também:

Salve Misiones

Avifauna de Garruchos

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