Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

terça-feira, 22 de março de 2011

Conexão Turvo - Misiones

A poucos dias tive a imensa satisfação de conhecer o lado argentino do Salto do Yucumã, que para eles se chama Moconá. Lá também existe um parque florestal, que recebe o nome do Salto.

Este parque possui uma área menor que o do lado brasileiro, porém situa-se dentro da imensa reserva de Yabotí que possui nada menos que 250 mil hectares de floresta preservada, conforme nos informaram os guarda-parques.

Salto do Yucumã (ou Moconá - Argentina).

Rio Yabotí, exemplo de preservação.
Me surpreendeu o nível de conhecimento científico que os guardas argentinos têm em relação às espécies da fauna missioneira. Conversamos um bom tempo sobre o que mais me fascina e interessa: as cinco espécies de águias florestais que possuem ocorrência na área (Harpia, Morphnus e os três Spizaetus). Também trocamos informações sobre outros animais raros que possuem poucos registros no Rio Grande do Sul.

Além disto, há uma infra-estrutura privilegiada para pesquisadores de rapinantes, com mirantes que deixam qualquer um admirado, rios preservados que serpenteiam através da selva nativa e um belo centro de visitação com fotografias, desenhos e informações úteis aos interessados.
     
Porém, a visita não foi a passeio e sim informativa. Como trabalho com aves de rapina no Turvo recebi, através do biólogo e na ocasião gestor do parque, Márcio Geroldini, a notícia de que guardas argentinos haviam registrado a Harpia (Harpia harpyja) em território brasileiro. Então, fomos verificar! De fato, os guardas confirmaram o registro. Disseram que estava pousada em uma árvore na área do Salto, no lado brasileiro, e que uma fotógrafa clicou a grande águia. A foto ainda não chegou em nossas mãos - que aguardam ansiosamente - pois o registro é um dos mais importantes para o Rio Grande do Sul.

Mirante no Parque Moconá, Argentina.
Em vista da ameaça de alagamento que a área sofre, por parte de usinas hidroelétricas, recomenda-se prudência na questão, já que a águia é considerada extinta em território gaúcho (Bencke et al. 2003), sendo este, quem sabe, o último exemplar existente.

Se admitirem o alagamento, porém, 10% da área do Parque do Turvo - cerca de 1750 ha de floresta preservada - será afundado e, possivelmente, animais grandes que precisam de áreas super preservadas desapareçam também. Sabe-se ao certo que a comunidade de peixes será bastante afetada.

Dourado (Salminus brasiliensis) fotografado próximo ao salto.

Vale lembrar que a riqueza do Parque do Turvo é conservada, em parte, devido à conexão com as matas de Misiones, e que nossa gratidão a esta província argentina deve ser nitidamente expressa.

Empreendimentos como esta usina, tratada ao título de "progresso", só contribui para a desconexão entre o Parque do Turvo e as matas argentinas de Misiones. Quem sabe o melhor seja aprendermos um pouco com os nossos vizinhos hermanos e começarmos a explorar o potencial ecoturístico que a região possui. Do outro lado do grande rio parece que este oportunismo já chegou!

Gavião-preto (Urubitinga urubitinga) voando sobre o salto. Foto: D. Meller.
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Veja também:

Gavião-de-penacho no Salto do Yucumã
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9 comentários:

  1. Parabéns pelas pesquisas Dante!
    Serei uma eterna admiradora do seu trabalho! Que, cada vez mais, nos apresenta as belas surpresas que a mãe natureza nos reserva!!!
    Agradeço por teres contribuído com a minha paixão pelo verde e pela causa ambiental! Me ensinastes a ver o mundo de forma diferente, a fazer eu me sentir parte de tudo isso, como uma extensão do próprio Deus!
    Tudo tem sido de imensa inspiração também para meus trabalhos, ainda que na área do direito!
    Parabéns! E não deixe de nos dar notícias sobre a Hapia! =*)
    Um beijo Lu

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  2. Obrigado, Lu. A recíproca é tbm verdadeira...

    Um beijo!

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  3. Irado Dante.... como faço pra chega la... ???

    Forte abraço...!!!
    Namastê!!!

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  4. Além da páscoa, já podemos marcar uma visita lá também. Abraços

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  5. Bom...pra chegar no turvo é só seguir em direção ao salto do yucumã. Aí do litoral catarinense vai ter que atravessar o estado no sentido oeste.
    Abraço

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  6. Muito bacana o texto Dante! Parabéns! A notícia do registro da Harpia harpyja no Turvo é fantástica e com certeza um dos dados mais importantes da espécie no sul do Brasil! Explêndido!

    Abraço

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  7. Ah, delirei com a imagem do Mirante
    do Parque Moconá, um excelente ponto de observação de rapinantes! paisagem show!

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  8. Valeu, William. É um lugar que realmente vale a pena visitar. Grande abraço!

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