Aves ameaçadas em Santo Ângelo

* por Paulo B. Rodrigues e Dante Meller

Bando de veste-amarela. Foto: P. Rodrigues.

Em setembro do ano passado o Governo gaúcho publicava a lista de espécies da fauna gaúcha ameaçadas de extinção.

A listagem, primeira atualização feita desde 2002, indica que o RS possui 280 espécies de sua fauna em algum grau de ameaça de extinção (Vulnerável, Em Perigo ou Criticamente em Perigo), além de 10 já extintas.

Em resumo, estão ameaçados 22% dos mamíferos, 18% dos peixes de água doce, 16% dos anfíbios, 11% dos répteis e 14% das aves nativas do estado.

"Uma lista de espécies ameaçadas serve para subsidiar as políticas públicas e também como um termômetro de como o ser humano está tratando o ambiente natural", disse Glayson Bencke, coordenador geral do trabalho e pesquisador do Museu de Ciências Naturais da FZB.

Das 91 espécies de aves ameaçadas no estado, pelo menos nove já foram registradas em Santo Ângelo nos últimos tempos e casualmente duas delas exatamente no dia da homologação desta lista, chamada de lista vermelha das espécies. No dia 9 de setembro de 2014 a surpresa foi achar a marianinha-amarela e o peixe-frito-pavonino, que convenhamos pelo seu canto poderia chamar-se saci-pererê.

Peixe-frito-pavonino - Vulnerável. Registro surpreendente para o município desta espécie que talvez seja residente aqui, habitando orlas de matas primárias, matas secundárias e em bordas de matas secas. A espécie é tolerante à fragmentação florestal, mas salienta-se que como a densidade dessa espécie é naturalmente baixa, num ambiente fragmentado isso pode aumentar ainda mais sua possibilidade de extinção local. Fonte: WikiAves.

Peixe-frito-pavonino (Dromococcyx pavoninus) na Granja do Sossego em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

Marianinha-amarela - Vulnerável. Registrada em matas de taquaras-bravas (Guadua trinii) na Granja do Sossego, possivelmente sendo residente no local. É comum no estrato inferior de bordas de florestas, clareiras com arbustos, bambuzais, cafezais e restingas. Vive aos pares ou em pequenos grupos de 3 ou 4 indivíduos, procurando ativamente por insetos na folhagem. Fonte: WikiAves.

Marianinha amarela (Capsiempis flaveola) na Granja do Sossego em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

Outras espécies vulneráveis que têm sido observadas com certa regularidade no município são o veste-amarela e o caboclinho-branco.

Veste-amarela - Vulnerável. Espécie já registrada em todas as estações do ano na Granja do Sossego, com bandos de diferentes tamanhos (10-50 indivíduos). Provavelmente seja residente, mas nem sempre encontrável, o que nos leva a supor que o bando utiliza uma grande área para se alimentar e/ou nidificar. As principais ameaças são a drenagem dos banhados, substituição dos campos por plantações, invasão de pinus, queimadas e sobre-pastoreio...

Casal de veste-amarela (Xanthopsar flavus) na Granja do Sossego. Foto: P. Rodrigues.

Caboclinho-branco - Vulnerável. Visitante de verão em Santo Ângelo. Chega em meados de outubro, vindo da região central do Brasil, permanecendo até março por aqui. No Sossego é avistado nos banhados e campos altos, sendo bastante comum encontrá-lo durante este período...

Caboclinho-branco (Sporophila pileata) macho na Granja do Sossego em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

Espécies vulneráveis que constam de um único avistamento confirmado incluem o caboclinho-de-papo-escuro e o gavião-cinza.

Gavião-cinza - Vulnerável. Registrado uma única vez na Granja do Sossego. Provavelmente um inverno mais intenso fez com que aparecesse aqui, algumas centenas de km mais ao norte do que sua área de ocorrência normal. Tem como principais ameaças a descaracterização de paisagens campestres e áreas úmidas e a invasão de espécies exóticas.

Gavião-cinza (Circus cinereus) macho na Granja do Sossego em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

Caboclinho-de-papo-escuro - Vulnerável. Registrado uma única vez (casal) durante dois dias na borda de um banhado perto do arroio Itaquarinchim. Pode ser que a ave utilize os banhados da granja como escala de descanso e alimentação de sua viagem do pantanal e cerrado do Brasil Central até o extremo sul do RS, Argentina e Uruguai. A espécie é visitante de verão (nov-março).

Caboclinho-de-papo-escuro (Sporophila ruficollis) macho na Granja do Sossego. Foto: P. Rodrigues.

Outra espécie Vulnerável que já foi observada em Santo Ângelo é o papagaio charão, mas que ainda não foi fotografado. Duas espécies Em Perigo já foram encontradas no município também, o papa-moscas-canela e o curió.

Papa-moscas-canela - Em Perigo. Encontrado na Granja do Sossego nos três últimos anos entre março e maio. É parcialmente migratória durante o inverno austral. Escasso, de ocorrência localizada em campos naturais intactos, com capim alto. Sofreu redução populacional por causa da transformação do ambiente natural em plantios e pastos. Fonte: WikiAves.

Papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis) na Granja do Sossego em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

Curió - Em Perigo. Encontrado algumas vezes em um banhado no município de Santo Ângelo. Existem suspeitas de que os exemplares avistados desta espécie sejam provenientes de soltura. Por ser uma ave muito procurada por criadores, sofreu grande redução populacional na natureza.

Curió (Sporophila angolensis) macho em Santo Ângelo. Foto: D. Meller.

Além destas, sete espécies que figuram a lista como quase ameaçadas também já foram observadas em Santo Ângelo. São elas: pato-do-mato, coró-coró, águia-chilena (registro não confirmado), mocho-dos-banhados,  tesoura-do-brejo, coleiro-do-brejo e iraúna-grande.

Pato-do-mato (Cairina moschata) e garça-branca-grande (Ardea alba) em banhado preservado na Granja do Sossego, em Santo Ângelo. Foto: P. Rodrigues.

“Uma sociedade não se define só pelo que cria, mas também pelo que se nega a destruir”.

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Veja também:

Lista das Aves de Santo Ângelo-RS

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