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Grupo Ave Missões no PE do Espinilho. Foto: Ingrid Sessegolo. |
*por Pedro Sessegolo
Às
vezes a gente fica matutando e até reclamando... – como é longe Uruguaiana!!
Na verdade não é longe, ainda mais para nós observadores de aves.
Em qualquer caminho que leva a Uruguaiana e
de lá até a Barra do Quaraí, assim como as suas estradas, seus atalhos, suas
picadas e sangas, a natureza floresce e os seres alados que tanto apreciamos
existem em profusão, desde aqueles numerosos bandos de garibaldis, até aqueles
que a gente só encontra por lá, o que torna as saídas para Uruguaiana e Barra
do Quaraí recheadas de surpresas e de encontros inesperados.
E talvez é por isso que Uruguaiana parece tão longe, pois muitas vezes paramos no caminho a ver a revoada dos garibaldis ou o majestoso voo de uma águia-chilena. E lá mora a família Bellagamba Oliveira, a Gina, o Ricardo e a Danielle, que seriam os nossos anfitriões em mais uma expedição do Grupo Ave Missões, reunindo amigos de Santo Ângelo, Tenente Portela, Porto Alegre e Cruz Alta.
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Bando de garibaldis (Chrysomus ruficapillus). Foto: Pedro Sessegolo. |
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Águia-chilena (Geranoaetus melanoleucus) em Itaqui. Foto: Pedro Sessegolo. |
Mas
desta vez até procuramos não nos demorar muito no caminho. E por uma razão muito
especial. O jardim da casa de nossos anfitriões, praticamente no centro da
cidade de Uruguaiana, estava recebendo uma visita muito especial e que seria
lifer para todos os integrantes do grupo.
E foi um encontro com hora marcada. As pombas-de-bando, que durante o dia
ficam se alimentando na zona rural, ao entardecer vêm procurar abrigo na cidade
e bandos numerosos, incluindo pombões, vêm justamente passar a noite nas árvores do jardim de nossos anfitriões. E o gavião-asa-de-telha chegou na hora
marcada, pois tem o reconhecido hábito de caçar no crepúsculo; sobrevoou o jardim e pousou para escolher uma
presa. Agitação do grupo para tentar uma boa foto, o que não foi tão fácil.
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Grupo mateando e esperando a aparição do gavião-asa-de-telha. |
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Jovem gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Foto: Pedro Sessegolo. |
Logo
de manhã, o grupo seguiu para a Estância Coqueiro, com breves paradas no
caminho, até porque alguns integrantes do grupo estavam debutando em Uruguaiana
e quase tudo era novidade. Já na entrada da fazenda, um mergulhão-grande nadava
no açude, na companhia de algumas marrecas-pé-vermelhos, pernilongos-de-costas-brancas e
uma solitária narceja. Na sede da fazenda, majestosas estavam duas pombas-do-orvalho, que deram boas vindas aos numerosos cliques das máquinas fotográficas.
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Mergulhão-grande (Podicephorus major). Foto: Ricardo de Oliveira. |
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Narceja (Gallinago paraguaie). Foto: Ingrid Sessegolo. |
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Pomba-do-orvalho (Patagioenas maculosa). Foto: Márcia Koch. |
Pela
manhã fizemos uma boa caminhada pelos campos da fazenda, com sua vegetação
típica, assistindo já de inicio um show do coperete, maior
espécie da família Furnariidae, rendendo belas imagens. Também destacamos o
encontro com um bando de capacetinhos, que nesta
época do ano aproveitam as flores amarelas dos espinilhos. Uma calhandra-de-três-rabos - a prima elegante do símbolo da Califórnia da Canção Nativa, festival de música de
Uruguaiana - mostrou sua elegância. E por todo o caminho, se esgueirando entre
os ramos das arvoretas, ficavam casais de balança-rabos-de-máscaras, simpática avezinha muito comum da região, sempre na sua variada
cantoria, que às vezes chega a confundir o mais experiente observador.
Antes do almoço, de volta à sede da fazenda, em meio a
algazarras das caturritas e de um bando misto de alegrinhos e
capacetinhos, apareceu um casal de sanhaço-de-fogo, com a cor tão maravilhosa quanto a do prato principal do almoço
feito e servido pelo talentoso mestre cuca Gabriel Brixter e pela Danielle.
Ainda comemoramos o aniversário da Jurema Furini, com bolo, docinhos e
cantoria.
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Grupo Ave Missões na Estância Coqueiro. Foto: Márcia Koch. |
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Essa dispensa legenda, não? |
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Sanhaço-de-fogo (Piranga flava). Foto: Cláudio Furini. |
Na parte da tarde, já com o Felipe Rodrigues, recém chegado da capital, integrado ao grupo, visitamos um mato de eucaliptos próximo à sede, residência permanente do bacurau-tesoura que mostrou sua arte de voar e de se camuflar no chão cheio de galhos e folhas. Percorremos os campos onde um curioso fenômeno ocorria, um tipo de migração de pequenas aranhas que aproveitando o vento e o calor lançavam suas teias e muitas vezes decolavam para grandes alturas. Ao passar novamente pelo mato de eucaliptos percebemos a presença do arapaçu-de-cerrado e do fantástico arapaçu-platino, cujo porte e elegância faz dele um dos mais belos integrantes da família Dendrocolaptidae.
Já quase no final da tarde, fizemos uma rápida visita ao Arroio
Toro Passo, onde encontramos mais um belo casal de sanhaço-de-fogo, e ainda a maria-preta-de-bico-azulado, mas logo o céu tomou aquela matiz de chumbo e a
pintura da tarde deu lugar à noite e à profusão de estrelas que nos trouxe
aquele momento de reflexão e de observar o quanto somos um quase nada no vasto
pampa gaúcho.
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Maria-preta-de-bico-azulado (Knipolegus cyanirostris) macho. Foto: Ingrid Sessegolo. |
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Grupo Ave Missões no Toro Passo. Foto: Márcia Koch. |
No sábado era dia de seguir rumo à Barra do Quaraí, mas fomos
devagarzinho, aproveitando tudo que a natureza nos oferece no caminho. Ainda em
terras de Uruguaiana, na ponte sobre o Arroio Ipapitocai, encontramos um bando
de cavalarias, num frenesi entre um e outro veículo.
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Cavalaria (Paroaria capitata). Foto: Cláudio Furini. |
Depois, já em terras de Barra do Quarai, duas paradas são quase
obrigatórias, nas barragens que a estrada corta. Muita água, vegetação de
banhado, plantas aquáticas e peixes são os ingredientes para encontrar até
mesmo uma gaivota-de-cabeça-cinza em pleno pampa. Presença obrigatória dos tachãs, muitos frangos-d'água, mergulhão-caçador, frango-d'água-carijó e o céu
sempre cortado pelo som supersônico das narcejas em voo. Um casal de marrecas-de-coleira passou rapidamente, enquanto o socó-boi trocava de lugar, ficando
imóvel para nos observar.
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Gaivota-de-cabeça-cinza (Chroicocephalus cirrocephalus). Foto: Ingrid Sessegolo. |
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Casal de marrecas-de-coleira (Callonetta leucophrys). Foto: Pedro Sessegolo. |
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Socó-boi (Tigrisoma lineatum). Foto: Ingrid Sessegolo. |
Já era metade da manhã quando chegamos no Parque Estadual do Espinilho,
mas tranquilos pois sabíamos que no dia seguinte lá estaríamos de novo bem
cedo. Conhecemos o guarda-parque
Maurício, que nos acompanhou na breve caminhada. Breve, mas rendeu bons
encontros, como sempre. Um solitário corredor-crestudo apareceu rapidamente.
Nosso anfitrião Ricardo fez uma breve explanação sobre a vegetação do parque,
principalmente a diferença entre os espinilhos e os inhanduvás. E ainda conhecemos as algarrobas, os quebrachos-brancos,
cactos e muitas outras plantas que fazem do parque um lugar único. Toda a
aparente força deste ambiente contrasta com a sua fragilidade, o que nos
inspira com ideais de conservação, de preservação e de certa forma consolados
por saber que existem pessoas como o Ricardo, a Gina, e agora o Maurício, sempre
alertas para que o parque seja eterno.
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Corredor-crestudo (Coryphistera alaudina). Foto: Pedro Sessegolo. |
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A marcante paisagem de savana do PE do Espinilho. Foto: Márcia Koch. |
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Grupo Ave Missões com guarda-parque Maurício no PE do Espinilho. Foto: Márcia Koch. |
Na tarde seguimos por estradas no interior de Barra do Quaraí, talvez o melhor lugar para conhecer
todo as paisagens do pampa. Muitas aves de rapina, como o gavião caramujeiro e o gavião-caboclo. Nas represas uma bela família de mergulhões-grandes tratava de seus três filhotes com muita
dedicação. Fomos até a Sanga Funda, onde encontramos a viuvinha-de-óculos e o joão-pobre. Mas o show mesmo foi de um coleiro-do-brejo, que indiferente à nossa
presença tomou um banho na sanga.
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Filhotes de mergulhão-grande (Podicephorus major). Foto: Ingrid Sessegolo.
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Viuvinha-de-óculos (Hymenops perspicillatus) macho. Foto: Ingrid Sessegolo. |
Passamos a noite na Barra do Quaraí, para que no dia seguinte a
visita ao parque fosse no amanhecer, bem cedo. No parque, a primeira e grande
surpresa foi encontrar o tijerila, primeira vez registrado no inverno,
contrariando quase todas as publicações de sua ocorrência. Em seguida uma
sucessão de encontros bem característicos do parque, como rabudinho, pica-pau-chorão, suiriri-cinzento, lenheiro, arapaçu-de-cerrado, capacetinho e arredio. E o êxtase: um casal de cardeais-amarelos apareceu e trouxe aquele
sentimento de missão cumprida. Como é bom vê-los!
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Tijerila (Xenopsaris albinucha). Foto: Paulo B. Rodrigues. |
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Rabudinho (Leptasthenura platensis). Foto: Pedro Sessegolo. |
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Suiriri-cinzento (Suiriri suiriri). Foto: Ingrid Sessegolo. |
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Arredio (Cranioleuca pyrrhophia). Foto: Pedro Sessegolo. |
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Cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata) macho. Foto: Paulo B. Rodrigues. |
Já retornando à sede do parque, depois de uma longa caminhada
margeando o rio Quaraí Chico, tivemos o derradeiro encontro, lifer para todos
os visitantes, uma arredia noivinha-coroada apareceu, caçando insetos e driblando
fotógrafos. Muita adrenalina, ninguém pode dizer que observação de aves não é
um esporte.
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Noivinha-coroada (Xolmis coronatus). Foto: Márcia Koch. |
Em todos os ambientes que passamos ou visitamos foram mais de 120 espécies registradas (veja lista), o que se configura um número muito expressivo. Foram momentos de muita descontração,
muita alegria, muitas risadas e muita emoção, ingredientes para que as amizades
se consolidem, tudo sendo narrado em tempo real aos amigos que por uma razão ou
outra, não puderam estar presentes.
Depois de toda esta narrativa podemos concluir e chegar a uma
verdade definitiva: Uruguaiana só é longe porque sempre é muito grande a
vontade de lá chegar.
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Grupo Ave Missões em Inhanduva no PE do Espinilho. Foto: Márcia Koch.
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Veja também:
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Parabéns a todos, um belo passeio com ótimos registros.
ResponderExcluirExcelente texto e ótimas fotos!! Parabéns a todos os participantes pelos registros!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirRealmente Incrível ^^
ExcluirIncrível ^^
ResponderExcluirMuito bem relatado, Pedro Sessêgolo e bem diagramado pelo Dante...
ResponderExcluirDante e amigos do Ave Missões. Agradeço a oportunidade para fazer a narrativa do que foi o nosso passeio, também agradecendo ao Dante pela formatação das fotos. Aliás, primeira vez que escrevo em um blog. Viva Uruguaiana e vida eterna ao Parque do Espinilho!!
ResponderExcluirShow demais!! Deu saudade do ano passado, quando estive com vocês por lá! Show demais! Abração
ResponderExcluirRaphael, voce e o amigo Caio sempre são lembrados em nossas saídas!!
ExcluirSensacional Vida longa ao pampa e ao grupo avemissoes. Abraço. Marcelo Pereira ( www.wikiaves.com.br/j-marcelo )
ResponderExcluirGrande post, com ótimo texto e belíssimas fotos! Lindas aves e paisagens... Parabéns ao grupo!
ResponderExcluirAss.:Lucas N de Porto Alegre - RS
Parabéns pela reportagem, contudo, tenho uma ressalva quanto ao Título
ResponderExcluirFicaria melhor assim: Todos os caminhos levam a Uruguaiana, e a Barra do Quaraí