Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Turvo 2015 - Parte 2: Meio

Registro do uirapuru-laranja no Turvo.
* por Dante Andres Meller
O segundo dia foi certamente o que rendeu o registro mais inesperado da visita ao Turvo.

A estrada do Porto García é um local pouco visitado no parque. Fechada ao público, somente com autorização é permitida a entrada.

Agradecemos à gestão do parque por proporcionar nossa visita a esta área remota e especial do Turvo...

Estrada do Porto García

Começava cedo o segundo dia da saída ao Turvo. Neste dia juntaram-se a nós integrantes do COA do Vale do Taquari, participando pela primeira vez de uma saída do grupo Ave Missões.

Participantes da saída ao Turvo na entrada da estrada do Porto García. Foto: Ingrid Sessegolo.

Campestre

O campestre é formado por um afloramento basáltico que não permite o desenvolvimento de vegetação florestal, devido ao solo raso, rochoso. Ele acaba se destacando em meio à floresta, com suas gramíneas, cactos e outras plantas características desse local.

Campestre do Porto García. Foto: D. Meller.

Participantes da saída ao Turvo no Campestre do Porto García. Foto: Pedro Sessegolo.

Nesse local observamos o verdinho-coroado, e ouvimos um possível pica-pau-de-cabeça-amarela, mas sem confirmação.

Nesse local fizemos nosso lanche-almoço, e conforme o sol ia saindo das nuvens, os rapinantes começavam a aparecer. A cena então mudou totalmente, e resolvemos ficar mais tempo ali do que o planejado, só olhando para ver o que o céu nos traria...

Encontro de águias

Primeiro apareceram os urubus, mas não o rei... depois um gavião-miúdo... até que de repente o gavião-pato cruzou o céu e depois desceu em voo rasante. A seguir voltou a planar pelos arredores da área, até que encontrou uma terma onde haviam urubus e se elevou.

Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) sobrevoando a área do campestre no Turvo. Foto: Ingrid Sessegolo.

Depois de ganhar altitude, o gavião-pato se deslocou rapidamente num gesto ameaçador até outro gavião. O outro era ainda maior, e numa manobra rápida se defendeu mostrando suas garras poderosas. Foi o suficiente para o gavião-pato respeitá-lo, mas seguiram voando juntos...

Tratava-se de um gavião-de-penacho, e lá nas alturas ambos voavam juntos. O gavião-pato voava em cima, como que escoltando o gavião maior e ameaçador para fora de seu território. Ambos foram indo além do nosso alcance... mas deixaram uma cena inesquecível aos nossos olhos.

Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) em cima;
gavião-de-penacho (S. ornatus) embaixo. Foto: D. Meller.

Descendo até o Porto García

Depois da disputa área das águias, seguimos estrada a dentro, em direção ao rio Uruguai. E aos poucos a estrada ia revelando seus habitantes...

Pariri (Geotrygon montana). Foto: D. Meller.

Mariposa Arsenura biundata (?). Foto: D. Meller.

Araçari-banana (Pteroglossus bailloni). Foto: Ingrid Sessegolo.

Tietinga (Cissopis leverianus). Foto: D. Meller.

A descida até o rio Uruguai é longa, e nem todos participantes acompanharam o percurso. Mas a vista, por si só, já compensava o esforço... e olha só o rastro que encontramos por ali.

Porto García no Rio Uruguai no PE do Turvo. Foto: D. Meller.

Pegada de onça-pintada às margens do Porto García. Foto: D. Meller.

Depois de tirarmos um descanso à margens do rio Uruguai, pegamos o caminho de volta, afinal já era de tarde e tínhamos que voltar. De preferência queríamos sair do mato de dia, pois não tínhamos nenhuma lanterna conosco. Sabe como é... ali tem onça e tal... melhor não arriscar!

Um encontro Puro

No caminho da volta o parque começou a retribuir nosso esforço. Foi uma série de acontecimentos que levou a termos um encontro especial.

Primeiro eu e o Carlos ouvimos um arapaçu-de-bico-torto, e na ânsia de compartilhar o registro descobrimos que o Alfieri e o Cleberton estavam fotografando um beija-flor-de-fronte-violeta. Aproveitamos então o momento com eles... e depois partimos localizar o arapaçu-de-bico-torto também.

Macho do beija-flor-de-fronte-violeta (Thalurania glaucopis). Foto: D. Meller.

Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius). Foto: D. Meller.

Já estávamos quase de partida, quando decidimos ficar um pouco mais para o Cleberton gravar o canto do arapaçu. De repente eu ouvi um assoviozinho que fez cair como que uma ficha. Será?! Não tínhamos o playback para tentar atrair a ave. Só tinha um jeito, entrar na mata e tentar achá-la. Foi o que fizemos...

Depois de andarmos alguns metros, gravamos o canto... Já confirmado pela voz, aquele passarinho todo colorido pousa na nossa frente, faz uma dancinha estilo Michael Jackson e entra na mata para não mais voltar.

Por sorte o amigo Carlos Neimar conseguiu a foto... Todos observamos muito claramente a espécie. Foi um momento radiante, tanto que nem sentimos as várias subidas da volta...

Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda) no Turvo. Primeiro registro confirmado da espécie no Rio Grande do Sul. Foto: Carlos Neimar Kuhn.

Depois disso voltar foi uma diversão só. Encontramos ainda outra arena de pavós, a qual adentramos para o Cleberton gravar a paisagem sonora que a arena possui...

No término da estrada encontramos uma serpente não-peçonhenta e uma corujinha-do-mato... Foi um dia intenso!

Provável Tomodon dorsatus. Foto: D. Meller.

Corujinha-do-mato (Megascops choliba), morfo ruivo. Foto: D. Meller.

Enfim chegávamos da caminhada de cerca de 20 km... com uma alegria só. Tomamos um mate cevado pelo vigilante do alojamento e curtimos um pôr-do-sol alaranjado como nossos sorrisos...

Pôr-do-sol no alojamento do Turvo. Foto: Carlos Neimar Kuhn.

Terminava mais um dia de Turvo... o próximo seria o da TI do Guarita... com suas próprias emoções. Até amanhã!

---------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------

8 comentários:

  1. Belo post , parabéns ! Lindas fotos e ótimo texto ! Incrível registro do Uirapuru-laranja e impressionante pegada de onça !!!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

    ResponderExcluir
  2. Belo relato, Dante. O arapaçu de bico torto ficou pra próxima ida ao Turvo. Quanto ao uirapuru laranja, bom, vamos torcer pra que apareçam muitos. Abraço
    Rafael Ritter

    ResponderExcluir
  3. Foi muito bom conhecer o pessoal do Ave Missões. É sempre bom fazer novas amizades, mais ainda quando todos tem o mesmo objetivo, que é observar aves. Belo texto Dante! O Turvo é realmente fantástico!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pelas palavras e mais ainda pela participação Alexandre!!! Que bom que gostaram da saída... méritos desse parque maravilhoso mesmo. Abraço!

      Excluir