Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Uma Viagem pelo Brasil

     Alguns dias atrás recebi um convite inesperado: "Dante, quer ir junto pra amazônia!?" O convite veio da parte dos amigos Geovane Marczewski e Adelita Rauber. A princípio hesitei: "Não, tenho coisas para resolver por aqui...", mas a idéia de realizar um sonho foi crescendo e a hesitação diminuindo, até que, após algumas opiniões de pessoas próximas, cheguei a um SIM final. Bora gaúcho!


Tucanuçu (Ramphastos toco), encontrado muitas vezes durante a viagem. Foto: Dante Meller.

     A proposta era aventureira: Viajar de carro do Rio Grande do Sul até Rondônia. Para um biólogo, a viagem, na verdade, era uma oportunidade de aprender mais sobre a Geografia, a Vegetação e, é claro, as Aves do nosso Brasil.

Acauã (Herpetotheres cachinnans) em Campo Grande, MS. Foto: Dante Meller.

     Saímos de Santo Ângelo/RS, região de transição de Pampa para Mata Atlântica, passamos pelas Matas de Araucária do oeste de Santa Catarina e do Paraná, cruzamos uma extensa faixa de Cerrado, nos estados mato-grossenses, por vezes com resquícios do Pantanal, pouco mais à esquerda do nosso caminho, para por fim adentrar os limites da Floresta Amazônica, ao norte do estado do Mato Grosso e em Rondônia.

Cerradão no MT. Foto: Dante Meller.
Vilhena, RO. Foto: Dante Meller.

     Foram 4 dias de viagem até Porto Velho/RO e muitos lifers emocionantes pelo caminho:

Arara-canindé (Ara ararauna). Foto: Dante Meller.

Garça-real (Pilherodius pileatus). Foto: Dante Meller.

Gavião-belo (Busarellus nigricollis). Foto: Dante Meller.

Maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis). Foto: Dante Meller.

Impressões Amazônicas

     Aos poucos a paisagem começou a ganhar florestas mais densas e árvores mais altas... não tive dúvidas: "Estamos chegando na Amazônia"!

Repare o tamanho da castanheira em comparação aos postes. Foto: Dante Meller.

     E os lifers continuavam, especialmente tratando-se de aves de rapina, que contabilizaram 7 novas espécies para mim nesta viagem!

Gavião-pedrês (Buteo nitidus). Foto: Dante Meller.

Gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii). Foto: Dante Meller.

Urubu-da-mata (Cathartes melambrotus). Foto: Dante Meller.

Encontro Feliz

     Depois de ter chego em Porto Velho, tiramos um tempo para se recompor e acompanhei o amigo Geovane em alguns negócios pessoais pela cidade. Meu sonho de adentrar as matas parecia adormecido e só o que eu via era o espaço urbano, por vezes também, a beira da estrada, de onde eu enxergava as matas altas que eu ansiava adentrar.

     Bom... nada como ter paciência, chegou o momento de irmos pro mato! Atravessamos pela balsa o Rio Madeira, onde a realidade da população local é bastante difícil, e adentramos novas áreas de mato, num mosaico de campos e fragmentos expressivos de mata nativa. Logo uma grata surpresa, e não por acaso (pelo menos para mim, que sou devoto de São Francisco de Assis) num local chamado Vila Franciscana.

     ...Uma árvore alta, com um ninho e uma ave pousada ao lado, parecia um gavião, mas estava longe. Depois de dar uma olhada melhor veio a confirmação: "É o gavião-de-penacho!" (Spizaetus ornatus).

Gaviões-de-penacho. Repare a fêmea (um tanto maior) à esquerda. Foto: Dante Meller.

     Ainda lembro seu canto e a maneira cautelosa com que tentavam nos distrair do ninho. Aves imponentes e belas!

     A bem-aventurança, porém, teve suas baixas. Perdemo-nos no meio da mata e nos pastos, nos arranhamos nas maçegas, fomos picados por formigas, vespas... e acabei perdendo minha caixa de som, ipod e bateria reserva da máquina fotográfica. Enfim, uma boa hora para praticar a paciência e confiar em Deus... Eu estava feliz com o encontro.

Sonho Realizado

     Confesso que ir à Amazônia tinha um propósito muito particular para mim, que seria ver um gavião-real (Harpia harpyja) em liberdade. Durante a viagem, cheguei a me frustrar por antecipação, pensando que não encontraria a majestosa águia. Depois dos gaviões-de-penacho, e tantos outros lifers, eu já me dera por satisfeito, pensando que tudo tinha valido muito a pena.

     Mas ainda havia um lugar que o Geovane falava e queria me levar, a tal da linha 7...

Floresta amazônica na linha 7. Foto: Dante Meller.

     Sem dúvida uma mata exuberante. Várias aves em atividade, tucanos, papagaios e também macacos. Estávamos fotografando um gavião-pedrês... De repente cruzou a estrada aquela ave enorme, com batidas pesadas e fortes, toda malhada em preto-e-branco e com um colar negro na garganta. Pude ver sem binóculos o que me trouxe a sensação imediata de realização: lifer! "Harpia, harpia, harpia!!! Foi o que gritei baixo para o amigo.
     Ela pousara e por 10 minutos, ou mais, a observamos com um macaco-prego(?) nas garras. 


Gavião-real (Harpia harpyja). Foto: Dante Meller.


     A águia pareceu não se incomodar com nossa eufórica, mas silenciosa presença, e depois tranquilamente seguiu seu rumo pelo teto da floresta. SENSACIONAL!!!

Amazônia Viva

     Duas conclusões posso tirar a respeito do pouco que vi da Amazônia. A primeira é que o desmatamento está em processo bastante acelerado e, se pensarmos num futuro mais distante, será que Harpias continuarão a ser comuns assim?
     A segunda é a realidade social do povo, sendo difícil tratar de consciência ambiental quando muitas vezes as necessidades básicas faltam. O desenvolvimento sustentável parece ter na Amazônia um grande desafio pelas próximas décadas.

    ...Mas, se a paciência sempre constrói situações bem sucedidas para o homem que a pratica, quanto mais para a natureza, que é mestra nesta virtude!

     Agradecimento especial ao amigo Geovane, e a todo o pessoal da Penha, que me receberam muito bem em sua casa. Obrigado!

6 comentários:

  1. Olá caro Dante em primeiro lugar que bom saber que foi bem recebido pelo nosso pessoal (Penha), e segundo quero dizer que posso imaginar a sua tamanha satisfação e alegria em conhecer parte da NOSSA AMAZÔNIA, sou uma NORDESTINA/NORTISTA (nasci no Nordeste, porém cresci no Norte), amo o Sul, mas me orgulho imensamente das minhas origens, por isso é muito gratificante saber que a região Norte está sendo exibida de forma tão bonita. Obrigada. Enedina.

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    1. Oi Enedina. O pessoal me recebeu muito bem sim. Soube pelo Geovane quem era você. Mas a região é muito linda, sem dúvida! Um grande abraço!

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  2. Oi filho...happy...happy...happy então...a poderosa Harpia se mostrou para ti...eba
    Valeu pela viagem querido...
    Um super beiju da mãe

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  3. Parabéns Dante,, conseguistes lifers de dar inveja (no bom sentido) a quanquer observador de aves....

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