Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Na estrada para Jóia...

Perdiz ou codorna. Foto: D. Meller.
* por Dante Andres Meller
Última quarta-feira decidimos pegar a estrada em direção ao município de Jóia.

A região apresenta áreas típicas de pampa, com espinilhos e campos com solo pedregoso, em paisagens vastas.

Antes resolvemos passar na Mata da Capela, em Bozano, só pra aquecer...

A Mata da Capela é mesmo fascinante, em poucos minutos de passarinhada ouvi muita coisa interessante, e algumas coisas legais foram avistadas também. Saí com aquela sensação de mini Turvo, como alguns amigos definem o local. O amigo Alfieri, que não conhecia essa mata, ficou bastante surpreso com a qualidade do fragmento, que preserva árvores de grande porte em seu interior.

Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) se alimentando dos frutos da caixeta (Schefflera morototoni) na mata da Capela. Foto: Alfieri Callegaro.

Além de encontrar espécies pouco comuns como cais-cais, gaturamo-bandeira e gaturamo-rei, ainda encontramos um negrinho-do-mato, que teve sua vocalização gravada. Curiosamente, quando cheguei em casa à noite, o amigo Paulo me informava que também havia registrado um negrinho-do-mato no mesmo dia em Santo Ângelo. Ele pegou uma foto...

Negrinho-do-mato (Amaurospiza moesta) macho na Granja do Sossego, em Santo Ângelo. Foto: Paulo B. Rodrigues.

Pouco antes de deixar a Mata da Capela ainda escutei uma vocalização muito semelhante à da pomba pariri (Geotrygon montana), que foi gravada e está para ser confirmada. Assim como o anterior, esse seria um registro bem interessante pra área também.

Ouvidos e olhos aquecidos partimos encontrar o amigo Charles, que nos esperava em Ijuí e nos guiaria em direção às paisagens de Jóia. A ideia era explorar esse município a fim de encontrar algumas espécies que ocorrem em Cruz Alta, mas não estão registradas ao longo da região noroeste, como algumas espécies de marrecas, por exemplo.

As lagoas eram sempre uma surpresa, o que mais havia eram irerês, mas alguma coisa diferente podia estar escondida junto...

Irerês (Dendrocygna viduata). Foto: Charles Boufleur.

Logo ao passar pela cidade de Jóia, numa das primeiras lagoas que paramos para olhar, fizemos então o esperado registro novo para a região noroeste, uma marreca-pardinha, enfim...

Marreca-pardinha (Anas flavirostris) em Joia. Foto: D. Meller.

Até o momento o passeio estava rendendo... seguimos mais adiante, passando por Santa Tecla e chegando até uma localidade conhecida por Espinilho Grande, localizada na divisa entre Jóia e Tupanciretã.

É uma área muito interessante, com uma formação tipo savana, com matas de galeria nos rios, onde predomina a taquara-brava (Guadua trinii). No alto das cochilhas a formação campestre ganha destaque pela quantidade de espinilhos presentes. Alguns banhados nas várzeas enriquecem ainda mais a paisagem.

Banhado na localidade Espinilho Grande em Tupanciretã. Foto: D. Meller.

Apesar de promissora, essa área acabou não rendendo registros raros e inusitados. Havia sim algum movimento de aves, mas eram espécies comuns, como o balança-rabo-de-máscara, bichoita e cochicho, especialmente onde predominavam campos e espinilhos. Mais próximo às matas de galeria encontramos também tico-tico-da-taquara, borboletinha-do-mato e arredio-oliváceo. Alguns rapinantes também foram avistados, mas nenhum raro.

Urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura). Foto: Charles Boufleur.

Chimango (Milvago chimango). Foto: D. Meller.

Em um momento tive a impressão de ter visto um sanhaçu-de-fogo, mas a ave voou rapidamente e depois só o que avistamos foi o tico-tico-rei, que talvez tenha me confundido.

Tico-tico-rei (Lanio cucullatus) macho. Foto: Charles Boufleur.

Saindo do local encontramos ainda um casal de canários-do-campo, que foi um dos registros menos comuns feito na área. O momento mais marcante, de fato, foi quando um perdigão repentinamente voou bem ao nosso lado, dando aquele susto e se mandando num legítimo partiu! Puxa... se tivéssemos visto antes...

Pergidão ou perdiz (Rynchotus rufescens). Foto: Charles Boufleur.

Partimos em direção a uma área de campos pedregosos, dessa vez no município de Jóia novamente. A paisagem do local é fascinante, a perder de vista.

Campos pedregosos em Jóia, próximo às nascentes do Rio Piratini. Foto: Alfieri Callegaro.

Novamente, ao contrário do que a paisagem nos fazia supor, poucas espécies diferentes foram observadas. De fato, além de uma noivinha e outras espécies mais comuns, os arbustos normalmente revelavam quase que unicamente cochichos e seus ninhos.

Cochicho (Anunbius annumbi). Foto: D. Meller.

A paisagem já nos agradava bastante, mas a gente sempre espera encontrar alguma surpresa, e vínhamos comentando que estava meio monótono e tal, quando uma perdiz (codorna) voa entre eu e o Charles, dando aquele susto mais uma vez... O Alfieri dava risada sozinho até que em poucos passos teve seu próprio susto também, quando quase pisou em uma coral-verdadeira...

Coral-verdadeira (Micrurus sp.). Foto: Charles Boufleur.

Era hora de pegar a estrada para voltar, e ainda rendeu um registro legal de um primavera... quem sabe era um sinal sobre a época certa para explorar novamente essas áreas... só voltando lá pra saber.

Primavera (Xolmis cinereus). Foto: D. Meller.

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Veja também:

Em busca dos espinilhos das Missões
Breve campereada em Santo Antônio das Missões
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4 comentários:

  1. q maravilha, esse mato da capela é muito legal mesmo, e Jóia deve ser melhor explorada! Parabéns!

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    1. Valeu Cadu!! Temos que voltar nesse local em Joia sim... Abraço

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  2. Belos registros e ótimas fotos ! Lindas paisagens !!!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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