De volta ao Turvo 2018

* por Dante Andres Meller

Pica-pau-rei macho. Foto: DAM.

Me pergunto se é possível em uma só vida tudo ver e saber sobre os mistérios que acobertam-se sob uma floresta?!

Peca quem nada mais espera vivenciar do vasto verde que tamanha bonança traz, caindo em desinteresse e desatenção, estes, inimigos da boa vida e proveitosa observação de aves.

No profundo de uma floresta preservada, ver, ouvir e sentir é crucial! O momento raro, raríssimo!, pode acontecer a qualquer instante. E tudo que precisamos fazer é esperar pelo desvelar da vida.

Pelo oitavo ano consecutivo visitamos o PE do Turvo na primavera para observar aves. É sempre uma saída muito esperada por todos os integrantes do grupo, enfim, nunca se sabe o que poderá aparecer, ainda mais com registros recentes de harpias etc e tal...

Vista para o rio Uruguai com matas preservadas ao fundo. Foto: Ataiz Siqueira.

Esse ano resolvemos mudar um pouco a dinâmica da saída, fazendo a confraternização final na área de lazer do Salto do Yucumã, ao invés do tradicional churrasco no Sítio da Guarita. O motivo foi que decidimos deixar a saída do Guarita independente da do Turvo, e como já havíamos visitado a área Indígena esse ano, ficamos exclusivamente no parque dessa vez.

Grupo confraternizando na área de lazer do Salto. Foto: Márcia Koch.

A chegada ao Turvo foi no dia da independência, e focamos nossas buscas pela Trilha das Lagoas e pelo começo da Estrada do Salto. Aqueles que chegaram mais cedo foram de cara premiados com belos registros, como o pica-pau-de-cara-canela. Conforme ia passando o dia, muitas espécies interessantes iam aparecendo, e não poderia faltar aquela parada clássica no uirapuru-laranja.

Pica-pau-de-cara-canela (Celeus galeatus). Foto: Pedro Sessegolo.

Surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus). Foto: Pedro Sessegolo.

Pavó (Pyroderus scutatus). Foto: DAM.

Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda). Foto: DAM.

Tangará (Chiroxiphia caudata). Foto: Cláudio Furini.

Foi um dia proveitoso e à noite, para fechar, ainda tivemos um jantar preparado com muita dedicação na casa do Furini e da Ju, em Tenente Portela, cidade onde também estávamos hospedados.

No sábado, foi a vez da Trilha do Campestre, onde gaviões sempre costumam dar as caras. E, logo no começo, um casal de gaviões-de-cabeça-cinza nos aguardavam, vocalizando e realizando exibições aéreas, incluindo o butterfly display, em que um dos gaviões bate asas ao modo de uma borboleta.

Gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). Foto: DAM.

Conforme andávamos pela trilha, bandos mistos iam se revelando, era hora de praticar a paciência com os braços e pescoço, já que segurar os binóculos e máquinas apontando para a copa das árvores era essencial nesse momento. Para não ser tão dramático, espécies de estratos mais baixos também tiveram seus momentos e deixaram muitos de nós satisfeitíssimos com os resultados.

Grupo observando bando misto. Foto: Leonardo Sessegolo.

Chocão-carijó (Hypoedaleus guttatus). Foto: Paulo Bertagnolli.

Araçari-banana (Pteroglossus bailloni). Foto: Paulo Rodrigues.

Piolhinho-chiador (Tyranniscus burmeisteri). Foto: Pedro Sessegolo.

Enferrujado (Lathrotriccus euleri). Foto: Paulo Bertagnolli.

Trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis). Foto: Alfieri Callegaro.

Negrinho-do-mato (Amaurospiza moesta). Foto: Ingrid Sessegolo.

Pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus temminckii). Foto: DAM.

Arapaçu-rajado (Xiphorhynchus fuscus). Foto: DAM.

Já no campestre, era a hora do lanche e dos gaviões! Estava quente e com céu limpo, e só faltavam as silhuetas que fazem qualquer um levantar imediatamente, movido pelo impeto espontâneo de eternizar o momento raro. Como de praxe, o majestoso gavião-pato nos agraciou com sua presença, embora mais rápido do que gostaríamos. Se não fosse a Ata avistá-lo e avisar, acho que nem o teríamos percebido, já que cruzou rapidamente o céu em um voo planado descendente que causou euforia e um gostinho de quero mais.

Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus). Foto: DAM.

Grupo reunido no Campestre. Foto: Márcia Koch.

Domingo cedo nos dirigimos para a área de lazer do Salto do Yucumã, com algumas paradas pela estrada, especialmente no ponto do uirapuru e na curva do Santa Catarina. No primeiro, havia um papa-moscas-cinzento, o que me deixou bastante surpreso, pois não é muito comum encontrá-lo nas estradas do parque. Já na curva mencionada, adentramos uma lagoa, onde havíamos fotografado as viuvinhas na sexta-feira, mas nesse dia o objetivo era outro, pois o guarda-parque Carlos Neimar nos deu a dica de que havia um ninho de pica-pau-rei ali, então fomos conferir.

Papa-moscas-cinzento (Contopus cinereus). Foto: DAM.

Pomba-galega (Patagioenas cayannesis). Foto: DAM.

Casal de viuvinhas (Colonia colonus). Foto: DAM.

Iraúna-grande (Molothrus oryzivorus) jovem. Foto: Cláudio Furini.

Caneleiro-verde (Pachyramphus viridis) fêmea. Foto: DAM.

Saíra-viúva (Pipraeidea melanonota). Foto: Pedro Sessegolo.

Pica-pau-rei (Campephilus robustus) fêmea. Foto: DAM.

Grupo reunido na lagoa para observar o pica-pau-rei. Foto: DAM.

Na área de lazer do Salto, optamos por fazer a Trilha das Onças, que era um dos objetivos do dia. Essa trilha é intrigante... ao mesmo tempo em que muitas vezes nada interessante apareceu, em outras já fizemos registros fantásticos. Tem dias e dias... nesse domingo foi interessante a trilha, com registro do abre-asa-de-cabeça-cinza e novamente o gavião-de-cabeça-cinza. Ao término reencontramos o barbudinho, que já havia sido bem fotografado pelo amigo Paulo Bertagnolli no primeiro dia nesse local.

Abre-asa-de-cabeça-cinza (Mionectes rufiventris). Foto: Adaltro C. Zorzan.

Barbudinho (Phylloscartes eximius). Foto: Paulo Bertagnolli.

De volta ao nosso quiosque, foi a vez de nos deleitarmos com os gaviões. Os que não tinham ido pra trilha, especialmente a Ata, ficaram incumbidos de olhar pro céu. E não é que cumpriram bem a missão... Além do já mencionado gavião-de-cabeça-cinza, também um gavião-pato foi avistado. E, pouco tempo depois, um casal voando junto... mas muito, muito alto.

Casal de gaviões-pato voando alto sobre a área de lazer do Salto. Foto: DAM.

Hora de fazer o fogo, espetar a carne etc. Mas não é que surge o inesperado! De repente aparecem o Adaltro e o Furini felizes da vida porque um tapaculo-ferreirinho estava dando mole no começo da Trilha do Salto. É o tipo de oportunidade que não se deixa passar. O fogo já estava feito, a carne podia esperar um pouco... Divertido foi o critério utilizado pelo amigo Adaltro para fazer o registro. Quando cantou uma borralhara e o Furini perguntou se ele estava a fim de ir atrás, o mesmo disse: "não, esse bicho é muito complicado etc e tal..." Aí, logo a seguir, cantou o tapaculo e a resposta pra mesma pergunta foi: "claro, vamos lá!" Essa foi apenas uma das muitas situações divertidas de nossa saída...

Tapaculo-ferreirinho (Scytalopus pachecoi). Foto: Adaltro C. Zorzan.

No local teve ainda outras coisas inusitadas, como andorinhas-pequena-de-casa pousadas em árvores, uma curicaca cruzando em voo alto e gaturamos-bandeira descendo muito perto de onde estávamos.

Andorinhas-pequenas-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca). Foto: DAM.

Gaturamo-bandeira (Chlorophonia cyanea). Foto: Adaltro C. Zorzan.

Mais uma saída que ia chegando ao fim, contabilizando aproximadamente 140 espécies observadas nos três dias pelo grupo (veja lista). Gostaríamos de deixar agradecimentos sinceros a todos os participantes, especialmente aos amigos portelenses pela acolhida, ao amigo Carlos Neimar pelo acompanhamento no parque e à gestora Solange por autorizar nossa saída.

Estava divertido demais, o Turvo é realmente uma maravilha da natureza! Um fraterno abraço missioneiro a todos!



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Veja também:

Só pela Guarita!
195 belas desculpas para passarinhar no Turvo & na Guarita - 2017!
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