Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Passarinhando no primeiro dos sete povos

Capororoca em São Borja. Foto: DAM.
*por Dante Andres Meller
Seguindo a lógica da última postagem, quais seriam as possibilidades de se encontrar um cisne em São Borja?

Eu realmente não havia previsto... muito embora já tivesse feito um levantamento das espécies registradas na Terra dos Presidentes, mas o cisne capororoca não era uma delas.

Além desta nobre ave, muitas outras espécies interessantes também deram as caras em três recentes passarinhadas no local, me convencendo ser São Borja um baita lugar para observar aves.

São Borja é um dos municípios (senão o) mais antigos do Rio Grande do Sul, sendo carregado de história e cultura. Em relação às aves, é um local muito interessante. Além dos vastos campos nativos - muitos com espinilhos - possui banhados extensos e matas ciliares bem preservadas. Além do mais, as lavouras de arroz e suas barragens atraem uma diversidade de espécies aquáticas, como marrecas, garças e até a maior ave voadora do Brasil, o tuiuiú.

Garça-moura (Ardea cocoi) em alagado de barragem em São Borja. Foto: ADM.


Enquanto muita gente tem passarinhado em São Borja, passando pelo Banhado do São Donato em Maçambara e Itaqui, e seguindo pela Fronteira Oeste rumo a Uruguaiana e o PE do Espinilho, nosso Grupo Ave Missões ainda não pairou seu olhar sobre a querência são-borjense.

O fato é que apesar de São Borja ser o primeiro dos Sete Povos das Missões, atualmente o município fica inserido na região da Fronteira Oeste, o que foge um pouco do roteiro Noroeste do grupo. No entanto, não significa que não pode ser incluído em nosso cronograma, assim como outros locais que temos passarinhado também o foram, como o já mencionado PE do Espinilho.

Quis o destino, porém, que ao menos um passarinheiro do nosso grupo (eu) começasse a visitar São Borja, já que a namorada tem seus pais morando por lá. Então, porque não unir o útil ao agradável? Além do mais, algumas espécies habitam a vizinhança, e não falo somente de aves!

Casal de bugios-preto (Alouatta caraya) em São Borja. Foto: DAM.

Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) em São Borja. Foto: DAM

Pouco diferente de grande parte da região Noroeste, na Fronteira Oeste as passarinhadas parecem ser mais promissoras ao longo das estradas. O jeito então era pegar uma delas e ir interior adentro atento ao que aparecesse... e foi assim, com a ajuda dos são-borjenses da família da Ataiz, que começamos a descobrir as aves da área.

Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis). Foto: DAM.

Calhandra-de-três-rabos (Mimus triurus) em São Borja. Foto: DAM.

Viuvinha-de-óculos (Hymenops perspicilattus) macho em São Borja. Foto: DAM.

Eventualmente a vegetação muda e próximo a rios se formam áreas pantanosas. As espécies mudam e é bom ficar atento porque alguma coisa legal pode estar ali.
Gavião-preto (Urubitinga urubitinga) em São Borja. Foto: DAM.

Biguatinga (Anhinga anhinga) fêmea. Foto: DAM.

Socó-boi (Tigrisoma lineatum) em São Borja. Foto: DAM.

Sabiá-gongá (Saltator coerulescens) em São Borja. Foto: DAM.

As áreas de banhados costumam render coisas interessantes, e, além de belos passarinhos, quase sempre cruzam aves grandes voando sobre nossas cabeças, causando ótimas impressões!

Coleiro-do-brejo (Sporophila collaris) em São Borja. Foto: DAM.

Gavião-do-banhado (Circus buffoni) jovem em São Borja. Foto: DAM.

João-grande (Cicconia maguari) em São Borja. Foto: DAM.

Confesso que estava um pouco apreensivo com a possibilidade de encontrar alguma marreca diferente nesse último fim de semana em São Borja. Eu já havia ido a Cruz Alta uns dias antes, movido pela recente descoberta de um pato-de-crista do amigo Charles lá, porém o pato era pra ele tão somente... coisas da observação de aves, por isso é algo tão especial! Mas o Charles parece que já havia vislumbrado algo, me dizendo mais ou menos assim: "Lá em São Borja vai ter algo especial, colheste méritos vindo até Cruz Alta". Fiquei com isso guardado, mas não sabia o que apareceria...

A manhã ia bem, apesar da Ataiz não ter ido comigo passarinhar, já que ela teve que ficar em casa cuidando das crianças... Parei o carro à beira da estrada, ao fundo centenas de irerês, muito longe para distinguir outras espécies de marrecas, mas de repente duas silhuetas brancas enormes voando no horizonte... e vinham em minha direção! Logo me dei conta que eram cisnes e incrivelmente passaram sobre minha cabeça, um momento mágico! Levei a alegria pelo resto do dia, qual seria a possibilidade de encontrá-los? Nem havia passado pela minha cabeça! Ofereço pela Ataiz que não pode ir junto, mas que de certa forma estava lá comigo...

Cisnes capororocas (Coscoroba coscoroba) em São Borja. Foto: DAM.

São Borja é gaúcha! Assim já ouvi muito falarem. Que sempre continue assim, com suas fazendas de campos nativos, banhados e matas pantanosas. Já se percebe, no entanto, campos lavrados sendo convertidos em monoculturas... a soja adentrando cada vez mais no pampa e banhados sendo drenados para virarem arrozais. Até entendemos que a agricultura é importante, mas também sabemos que as coisas podem ser feitas de forma sustentável, garantindo um futuro à fauna e flora da região.

Como biólogos, temos que lamentar, sabemos que a biodiversidade é impactada, e a cultura do povo também acaba por mudar. E o gavião-caboclo, sem o campo para admirar, abre suas largas asas e alça voo para outros pagos, à procura de uma paisagem que ainda seja campestre, ou melhor, que ainda seja gaúcha.

Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis) em campo lavrado. Foto: DAM.

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Veja também:

Encontros na Fronteira Oeste
Pampa adentro
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12 comentários:

  1. Emocionante esse post, Dante! E as fotos estão arrebatadoras!! Parabéns!!! Abraço!!

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    1. Obrigado Adaltro! Em breve iremos propor uma saída pra São Borja com o Grupo... vale a pena! Abraço

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    2. avisa q se der, eu gostaria de ir tb, quero achar o carretão entre outras coisas, abraços e ótimo texto!

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    3. Claro Cadu, quando marcarmos a saída a gente te avisa sim. Seria uma satisfação ter a sua presença conosco. Valeu, abraço!

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  2. Realmente meu amigo, como havíamos conversado, esses registros inesperados trazem com eles uma sensação gratificante de que são únicos e mágicos. Lindo relato. Abraço

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    1. Isso mesmo meu amigo, obrigado pelo comentário! Grande abraço

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  3. Magnífico post! Como sempre, texto impecável e fotos incríveis... Lindos bugios e jacaré... e aves maravilhosas!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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  4. Que fotos hein Dante....parabéns. Ainda tem muita surpresa para ser descoberta nesta região!

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  5. Sensacional, Dante!! Essa bicharada é comum aqui pra baixo, mas encontrá-las aí deve ter sido demais!! Parabéns!

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  6. Exatamente isso! Aqui não é muito comum encontrar essas espécies, seria o limite de distribuição delas. Valeu, grande abraço!

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