Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

As corujas do gênero Asio

Mocho-diabo no Parque Estadual do Turvo. Foto: Dante Meller.
Por natureza, corujas são animais fascinantes e misteriosos. Sendo a maioria das espécies de hábitos noturnos e os seres humanos de hábitos diurnos (se bem que conheço alguns que vivem na noite! kkk...), muitas espécies passam despercebidas por nós. A seguir vou falar um pouco de três espécies lindas com as quais já tive contato aqui no Rio Grande do Sul: as corujas do gênero Asio.
     
Existem oito espécies deste gênero no mundo; são corujas de tamanho médio-grande que possuem asas longas, discos faciais bem desenvolvidos e, na maioria dos casos, tufos de penas ou "orelhas" no alto da cabeça (König e Weick 2008). No Rio Grande do Sul, três espécies podem ser encontradas; todas raras ou incomuns, sendo duas classificadas como "Espécie com dados Insuficientes" para análise de estado de conservação (Belton 1994, Bencke et al. 2003).

Dentre as espécies que aqui ocorrem, o mocho-diabo A. stygius e a coruja-orelhuda A. clamator possuem "orelhas" proeminentes, enquanto o mocho-do-banhados A. flammeus possui estas bem pequenas, quase que imperceptíveis.


Coruja-orelhuda em Santo Ângelo. Foto: Dante Meller.
Mocho-diabo é a maior das três espécies e a mais negra também. Ele é um tanto mais dependente de florestas que as duas outras espécies e no Rio Grande do Sul parece estar vinculado às florestas de araucária (Ombrófila Mista), ocorrendo, porém, também na Floresta Estacional Decidual, na região do Alto Uruguai (Bencke et al. 2003, König e Weick 2008, Bernardi et al. 2008).

A coruja-orelhuda é a mais clara das três espécies e parece não ocorrer em florestas densas, mas sim em áreas semi-abertas, com árvores esparsas ou clareiras em borda de florestas (König e Weick 2008). Em Santo Ângelo, tem sido observada com frequência em um pequeno fragmento de Pinus sp., onde parece terem estabelecido morada (obs. pess. DAM).

O mocho-dos-banhados, por outro lado, é uma espécie cosmopolita e ocorre em diversos tipos de áreas abertas, não ocorrendo em florestas (König e Weick 2008). No Rio Grande do Sul parece subsistir em baixas populações, não sendo numeroso em lugar algum; o fogo em áreas de banhado - locais de nidificação da espécie - pode representar uma ameaça neste Estado (Bencke et al. 2003).

Mocho-dos-banhados em Santo Ângelo. Foto: Paulo B. Rodrigues.
Eu tive oportunidade de observar o mocho-diabo no Parque Estadual do Turvo, onde é bastante raro, mas cada encontro é marcado por sua beleza e ar  misterioso. A coruja-orelhuda tenho observado no Sítio Água Doce, do amigo Pio, em Santo Ângelo. Há poucos dias tive um belo encontro com esta espécie, podendo contemplar e ser contemplado por seu olhar profundo e sereno. Por fim, ontem tive meu primeiro encontro (lifer!) com o mocho-dos-banhados, graças ao amigo Paulo B. Rodrigues, que descobriu a espécie em sua granja. Eu pude observar a ave caçando sobre lavouras e capoeiras, no cair do sol, à semelhança do que faz o gavião-banhado Circus buffoni. Houve um encontro curioso entre a espécie e o gavião-peneira Elanus leucurus, que sobrevoava e dava rasantes na coruja, conforme esta se aproximava. Mas fotos, mesmo, só as do Paulo!

É interessante mencionar que em Santo Ângelo uma aluna do curso de Ciências Biológicas encontrou uma coruja-orelhuda debilitada há pouco tempo atrás. A ave parecia ter sido eletrecutada e acabou morrendo devido aos ferimentos (obs. pess. DAM). Isso remete à carência que temos na região de um centro para tratamento de animais machucados ou perdidos, os quais muitas vezes são achados por moradores e acabam morrendo por falta de cuidados propícios. Se não me engano, o centro de tratamento e reabilitação de fauna silvestre mais próximo fica em Santa Maria e pertence ao Ibama. Existem diversos casos parecidos com o desta coruja - sobre os quais alguns acompanhei de perto e outros fui informado - em que os animais acabam morrendo, alguns se recuperando e outros em que pessoas de bom coração levam os animais (a custo de tempo e dinheiro) até o Ibama em Santa Maria. De uma forma ou outra, é interessante o afeto demonstrado pelas pessoas no cuidado com os animais silvestres.

Coruja-orelhuda com ferimentos encontrada em Santo Ângelo. Foto: Dante Meller.

---------------------------------------------------------------------------------
Veja também:

Asio stygius - Mocho-diabo
---------------------------------------------------------------------------------

6 comentários:

  1. Nossa... Uma coruja mais linda do que a outra!
    São mesmo animais fascinantes! Nunca vou esquecer a vez que fomos em busca das corujas de Igreja! hehe Muito emocionante! A gente volta a ser criança...
    Adorei a postagem! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Lu! É sempre bom vê-la por aqui... Bjo

    ResponderExcluir
  3. Em geral sou fascinado por todo tipo de ave, mas principalmente as rapineiras. Há um tempo atrás encontrei uma coruja buraqueira com um ferimento em uma das pernas e com ausência de penas nas azas que possivelmente foram arrancadas, ela estava desesperada se arrastando de um lado para outro ao lado da BR a 386, avistando aquilo, parei o carro e recolhi ela antes que fosse atropelada, utilizei remédios (pomadas) caseiras com auto poder de cicatrização e fui a alimentando, chegando perto da gaiola somente na hora da alimentação. Fiquei com ela entorno de 15 dias, após este período ela não apresentava nenhum sinal visível de lesão ou dificuldade em voar, então decidi que estava na hora de devolver a liberdade à mesma. Realmente aquilo foi muito gratificante, tive 15 dias de observação de uma espécie de ave a qual não me chamava muito a atenção, desde então meu fascínio pelas aves rapineiras dobraram é impossível eu avistar uma e não parar para observa-la.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Oi Dante,

    Encontramos tres corujas Asio clamator em uma área do tamanho de tres campos de futebol dentro da cidade. O problema é que eles estão fazendo loteamentos em volta da áreas. Descobrimos que vão retirar essa mata onde ficam as corujas em breve. Tem alguma lei que proteja essas corjas?
    Na prefeitura já fomos avisar que tem animais importantes vivendo na área. ELes não se preocuparam muito.
    Na sua experiência elas irão ocupar outros locais?
    Abraço,
    Cesar

    ResponderExcluir