Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Fotografando aves no Turvo mais uma vez...

Gavião-preto no Turvo. Foto: C. Boufleur.
* por Charles Boufleur
Eram 4:30h quando despertadores soaram em Cruz Alta e Santo Ângelo, e a expectativa de novamente visitar o Parque Estadual do Turvo aumentava.

O combinado éramos nos encontrar em Ijuí, onde eu e os santo-angelenses Dante Meller, Paulo e Pedro Rodrigues nos uniríamos para mais uma passarinhada no maior parque florestal do RS.

Para mim seria a quarta expedição ao local...


Pouco depois da 7:00 am chegávamos ao Turvo, esta reserva fundamental à biodiversidade do nosso estado e da qual o amigo Dante teve a honra de ser gestor entre agosto de 2013 e março de 2015. Graças à sua experiência como biólogo, e em especial por ter vivido o dia a dia do local, sabíamos que a partir do mês de agosto inicia um período de grande fartura aos observadores de aves.

Cabecinha-castanha (Pyrrhocoma ruficeps) no Turvo. Foto: C. Boufleur.

No amanhecer o tempo estava fechado, com chuvisqueiro e muitas nuvens, e foi nestas condições que iniciamos a caminhada pela estrada do Salto, onde efetuamos os primeiros registros. Próximo à primeira lagoa, a atividade estava grande, ouvíamos o gritador, pimentão, caneleiro, tecelão, gaturamo-rei, pica-pau-de-banda-branca... e foi ali que consegui meu primeiro lifer fotográfico, ao registrar, ainda que com muita dificuldade, a choquinha-carijó.

Choquinha-carijó (Drymophila malura). Foto: C. Boufleur.

Andamos mais um pouco e na parada seguinte novas surpresas apareceram: limpa-folha-ocráceo, azulão, cabecinha-castanha, cabeçudo, arapaçu-rajado, tiê-do-mato-grosso, estalador, enquanto cuiu-cuiús sobrevoavam a área.

Estalador (Corytophis delalandi). Foto: C. Boufleur.

Também foi neste local que registramos mais uma espécie para Derrubadas no WikiAves, ao gravarmos a vocalização de um inhambuguaçu dentro do Turvo, elevando para 290 o número de espécies no município. Pouco à pouco as riquezas do Turvo iam se revelando... E nesta hora o Pedro conseguiu realizar uma foto do miudinho, que deixou todos de queixo caído com a beleza da tão diminuta ave.

Miudinho (Myiornis auricularis). Foto: Pedro Rodrigues.

Ainda pela manhã, fizemos mais uma parada obrigatória, próximo à Clareira das Antas, onde conseguimos visualizar a incrível cena de um gavião-preto caçando! Entusiasmados com a visão, eu, o Dante e o Pedro utilizamo-nos de um carreiro feito por animais para tentar nos aproximar do rapinante. Fomos recompensados em avistar não um, mas dois belos gaviões, que ariscos mantiveram-se no alto de uma árvore do outro lado da clareira. Voltávamos comemorando nossa sorte, quando percebemos que uma previsão do Dante, ao alertar que o uso da trilha poderia nos expor a carrapatos, havia se concretizado. E tivemos que passar alguns minutos retirando dezenas deles das calças.

Casal de gaviões-preto (Urubitinga urubitinga) na clareira das antas. Foto: C. Boufleur.

Pedro e Dante catando carrapatos após adentrar carreiro para ver o gavião-preto. Foto: Paulo Rodrigues.

Contratempos à parte, o sol deu as caras e com ele muitos urubus passaram a planar, o que para o nosso experiente amigo Dante, também servia de aviso para a possibilidade de encontrarmos mais rapinantes...

A manhã seguia animada, ao constante som do gritador capitaneando bandos mistos, mas uma das aves mais complicadas de serem registradas também resolveu vocalizar. Desta vez os quatro foram unânimes em entrar na mata para registrá-la, era o flautim, outra ave "figurinha carimbada" do Turvo, mas que eu nunca havia conseguido uma foto digna.

Passamos um bom tempo no breu da floresta, fazendo o uso do playback, tendo o incessante flautim como um míssil entre nós. Mas o esforço acabou recompensado e consegui, enfim, também esse importante registro.

Flautim (Schiffornis virecens). Foto: C. Boufleur.

Já era perto do meio dia, e mais algumas espécies são registradas: balança-rabo-leitoso, chocão-carijó, gaturamo-bandeira, tietinga, e eu enfim consegui registrar um indivíduo macho do belo tangará, o qual apesar de ser uma ave relativamente comum, somente agora me permitiu fotografá-lo.

Tangará (Chiroxiphia caudata). Foto: C. Boufleur.

Quando preparávamos a parada para o almoço, o Dante sobressalta ao ouvir baixinho uma vocalização! Estava soado o alarme, "gavião-de-penacho", bradava ele. Olhamos à volta nas árvores ao longe e nada, quando com o binóculo ele avistou voando alto o imponente rapinante que ainda estava acompanhado pelo relativamente raro gavião-de-cabeça-cinza, espécie que havia a poucos dias sido registrada pelo Paulo na Granja do Sossego em Santo Ângelo.

Após almoçarmos os deliciosos sanduíches enviados pela Márcia, um momento divertido foi quando eu novamente soei o alarme, agora de "araçari-poca", quando na verdade tratava-se de um "araçari-folha" frustrando a todos - coisas de míope!

Avançava a tarde e chegávamos perto do Salto do Yucumã, e a essa altura da estrada que, juntamente com o Paulo, consegui meu primeiro e muito desejado registro da trovoada-de-bertoni.

Trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis). Foto: C. Boufleur.

Quase ao fim do dia, próximo à área de lazer do Salto, vivenciamos mais dois grandes momentos com belas aves que permitiram ótima aproximação.

Primeiro avistamos um casal de surucuás-de-barriga-amarela, animais tão belos que chega ser difícil entender como a natureza consegue combinar cores de uma forma tão sutil e harmônica. E enquanto os surucuás ainda estavam posando para os clicks, um curioso limpa-folha-de-testa-baia mostrou que mesmo menor e sem ter cores tão vistosas é capaz de encantar com seus malabarismos.

Surucuá-de-barriga-amarela (Trogon rufus). Foto: Dante Meller.

Limpa-folha-de-testa-baia (Philydor rufum). Foto: Dante Meller.

O fim de tarde se aproximava e depois de visitar o lajedo do salto decidimos retornar, e claro que a volta não passaria em branco... Algumas cutias cruzavam o caminho, e mais adiante visualizamos alguns pavós, uma maitaca e até uma anta, além de passarmos um longo tempo tentando sem sucesso registrar o arisco tapaculo-ferreirinho, não foi desta vez... Mas o Turvo é assim, cheio de raridades e segredos, cobra seu preço por algumas buscas, como no caso dos carrapatos, mas brinda à vida a cada segundo.

Cutia no Turvo. Foto: Paulo Rodrigues.

Maitaca-verde (Pionus maximiliani). Foto: C. Boufleur.

Ao final estávamos todos cansados, mas respirávamos um ar de satisfação de ter novamente estado nesse lugar, de ter novamente conquistado o Turvo(!), mas sabíamos perfeitamente que é o Turvo que novamente nos conquistou.

Pavó (Pyroderus scutatus) no fim de tarde do Turvo. Foto: Dante Meller.

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Veja também:

A última hora no Parque Estadual do Turvo
Dois passarinheiros conhecendo o Turvo
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2 comentários:

  1. Que beleza, Charles! Mas... ... quando vamos de novo ?! rsss...

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  2. Lindas fotos e ótimos registros , parabéns ao grupo !!! Belos rapinantes !

    Ass.: Lucas N de Porto Alegre - RS

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