Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Entre o esperado e o inesperado...

Noivinha-branca em CA. Foto: DAM.
* por Dante Andres Meller
Não é de ontem que conhecemos o potencial para observar aves na Mata da Capela, em Bozano, e nas paisagens abertas de Cruz Alta...

Também não é a primeira vez que somos recepcionados pela hospitalidade dos anfitriões cruzaltenses, a quem somos muito gratos...

Esses são pontos que todo passarinheiro espera encontrar quando vai a campo, mas ir a campo sempre nos expõe a fatores que não temos controle: Será que o tempo vai estar bom? Quais aves aparecerão? Será que fotografarei aquela espécie rara? Esses são pontos que só indo a campo para saber...

Tudo começou muito cedo, como já seria esperado para uma passarinhada frutífera. Meu relógio despertava antes das 4... os galos nem sequer tinham cantado ainda. Antes de abrir os olhos, por assim dizer, uma água já chiava no fogão, e logo um mate amargo já me punha em foco ao objetivo do dia: passarinhar!

O tempo colaborou muito, e tivemos um lindo dia, a começar pelo nascer do sol. Foto: DAM.

Por volta das 7:30 todos nós já estávamos em Bozano, e partimos em direção à Mata da Capela, onde passaríamos a manhã observando aves. A Mata da Capela é um fragmento de floresta primária, e a observação de aves exige ouvidos atentos e olhar focado nas copas das árvores. Ambientes florestais sempre são desafiadores, porque por mais ricos que sejam em espécies, elas geralmente são menos acessíveis aos nossos olhos e clics. Com um pouco de paciência, porém, a floresta sempre revela suas preciosidades.

Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus). Foto: Adaltro Zorzan.

Pula-pula-assobiador (Myiothlypis leucoblephara). Foto: Charles Boufleur.

Macho do surucuá-variado (Trogon surrucura). Foto: DAM.

Patinho (Platyrinchus mystaceus). Foto: Charles Boufleur.

Eu provavelmente já falei isso outras vezes, e posso até soar redundante, mas sempre me impressiona a quantidade de árvores de porte que a Mata da Capela possui. São grápias, canjeranas, cabreúvas, canafístulas, angicos, cedros, etc. que trazem aquele sentimento da riqueza natural do noroeste gaúcho, por mais devastado que ele tenha sido.

Algumas árvores da Mata da Capela são centenárias, e ao nos aproximarmos de uma delas percebemos o quão pequenos somos diante de sua grandeza. Foto do Grupo Ave Missões em cedro na Mata da Capela, Bozano. Foto: Márcia Koch.

Manhã encerrada, com uma lista de 55 espécies, partimos almoçar na casa dos pais do Charles, nosso anfitrião em Cruz Alta. Não temos palavras para descrever o quão bom estava tudo, desde a recepção até a sobremesa, passando por uma degustação de vinho a um saboroso galeto assado pelo Seu Hilário.

De barriga cheia partimos para a sessão da tarde, passarinhando pelas paisagens abertas de Cruz Alta, especificamente na Estrada do Lagoão. E não é que logo no começo da estrada apareceram várias aves interessantes! O Charles ia narrando o que poderia aparecer, e elas iam dando as caras. Ter a companhia de um observador familiarizado com a avifauna local é de grande valia.

Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis). Foto: Charles Boufleur.

Falcões-de-coleira (Falco femoralis). Foto: Adaltro Zorzan.

Aí tinha um poste e o Charles diz assim: "Neste poste que eu encontrei a noivinha-branca em maio do ano passado". Aí eu olho pro outro lado e digo: "Olha lá ela". Estava lá a bendita noivinha-branca, nos esperando em cima de uma placa. Essa dá pra dizer que caiu do céu...

Noivinha-branca (Xolmis velatus). Foto: DAM.

Tínhamos um roteiro bem definido para a tarde, com a meta de chegar até um banhado na divisa com Fortaleza dos Valos, onde o também cruzaltense Pedro Sessegolo descobriu a sanã-carijó recentemente. Quem já tentou fotografar uma sanã sabe o quão complicado é, e nesse local a espécie tem se mostrado bem, então tínhamos que aproveitar a chance.

Banhado da sanã-carijó em Cruz Alta. Foto: Márcia Koch.

Chegamos no local e tocamos o playback. Elas responderam ao longe. Tentamos mais um pouco. Esperamos. Tentamos novamente. Até que... ufa! Apareceram...

Sanã-carijó (Porzana albicollis). Foto: Paulo B. Rodrigues.


Dezenas de veste-amarelas se recolhiam para pernoitar naquele local, enquanto observávamos dois gaviões-do-banhado cruzando sobre nós... Enfim, encerrava-se a tarde com uma lista de 50 espécies observadas. Encerrava-se também mais um dia de passarinhada com o Grupo Ave Missões, que nesse dia observou 95 espécies de aves.

Gavião-do-banhado (Circus buffoni). Foto: Paulo B. Rodrigues.

Obrigado a todos que participaram, especialmente ao Charles e sua família pela grande acolhida, e também ao amigo Christian Beier, vindo de Panambi. Até a próxima pessoal, forte abraço!

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Veja também:

Na estrada para Jóia
Desbravando o Noroeste: dois lugares, uma lição
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8 comentários:

  1. Parabéns a todos, pena que não foi possível para nós essa data. Aguardamos vocês aqui na Fronteira Oeste. Grande abraço...

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    1. Certo Ricardo, esperamos em breve visitá-los por aí... Grande abraço!

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  2. Falou bem, Dante!!! Lugar especial e passarinhada top!! Abraço aos amigos do Ave Missões!!!

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  3. Bah, no vídeo da sanã dá pra ouvir umas metralhadoras...hehehe. Parabéns pelos belos registros

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  4. Grandes registros , parabéns ao grupo ! Belas fotos e ótimo relato !!!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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