Recuerdos do Ave Missões no Turvo 2016

* por Dante Andres Meller

Saudade é mesmo um sentimento estranho... difícil de explicar, difícil de traduzir.

É, ao mesmo tempo, um sentimento bom e ruim de sentir... é algo que não passa, a não ser com o reencontro.

Após quatro dias andando pelas matas do Turvo e da Guarita, acompanhado de amigos muito legais, ficaram recuerdos de dias aconchegantes, dias pra lá de especiais.

Grupo Ave Missões no Centro de Visitantes do PE do Turvo. Márcia Koch.

Foram 3 dias no PE do Turvo e um dia na TI do Guarita, com cerca de 160 espécies de aves observadas (veja a lista). Também avistamos alguns mamíferos como o cateto, veado-pardo e macaco-prego. Contamos com a participação de 15 pessoas, bem animadas, que compartilharam pérolas pelos caminhos das florestas do Alto Uruguai.

Grupo Ave Missões no Campestre, PE do Turvo. Márcia Koch.

Tudo começou no Turvo, no sábado, quando descemos para a estrada do Salto. Logo de cara os araçaris-castanhos deram as boas vindas. Depois apareceram outras coisas, como o benedito-de-testa-amarela e os guaxes.

Araçaris-castanhos (Pteroglossus castanotis). Foto: Adaltro C. Zorzan.

No Turvo, em todos os dias, o uirapuru-laranja foi a estrela, mas nesse dia em especial ele surpreendeu, porque além de aparecer no local de costume, também foi avistado na trilha de acesso ao Salto.

Uirapuru-laranja (Pipra  fasciicauda). Foto: Adaltro C. Zorzan.

Uirapuru-laranja (Pipra  fasciicauda). Foto: Pedro Sessegolo.

Depois, com muita chuva, continuamos pelo Turvo no domingo, mas o tempo estava difícil para passarinhar, então resolvemos ficar pelo Centro de Visitantes mesmo, onde, além do aconchego desfrutado em um galpão crioulo, volta e meia apareciam alguns tietingas para animar.

Tietingas (Cissopis leverianus) no Centro de Visitantes do PE do Turvo. Foto: Adaltro C. Zorzan.

Grupo Ave Missões no Galpão Crioulo do Turvo. Márcia Koch.

Pela meia tarde, depois de um carreteiro campeiro no galpão, descemos a estrada do Salto, onde novamente vimos o uirapuru-laranja. A essa altura a chuva tinha já dado sua trégua, e a passarada estava bem ativa, quando registramos diversas espécies, incluindo o papa-taoca-do-sul e o pavó.

Pavó (Pyroderus scutatus). Foto: Adaltro C. Zorzan. 

Segunda-feira o tempo abriu e, ainda no Turvo, visitamos a Trilha do Campestre. Antes mesmo de começar a caminhada, avistamos primeiramente um par de joão-bobos. A seguir um gaturamo-bandeira deu um show aos nossos olhos, enquanto se alimentava em uma erva-de-passarinho, como é seu costume.

Grupo Ave Missões no alojamento do PE do Turvo. Cláudio Furini.

João-bobo (Nystalus chacuru). Foto: Paulo Rodrigues.

Gaturamo-bandeira (Chlorophonia cyanea) no alojamento do PE do Turvo. Foto: Cláudio Furini.

Seguimos a caminhada e logo na borda da mata avistamos muito ao longe algo branco em uma árvore altaneira... começou a euforia: O que será?! gavião-pato, tauató-pintado, harpia? Não, não... era mesmo um gavião-de-cauda-curta. Quando achávamos que tínhamos "errado o pulo", ao se aproximar da árvore desviando da trilha, passaram sobrevoando sobre nós dois gaviões-de-cabeça-cinza, dando um belo de um espetáculo com suas vozes de canto e chamado.

Gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). Foto: DAM.

Retornamos para a trilha e logo no começo foi a vez do surucuá-amarelo dar o ar de sua graça... esse dispensa qualquer comentário.

Surucuá-amarelo (Trogon rufus). Foto: Cláudio Furini.

Após aqueles 4 km de caminhada, com um encontro com o negrinho-do-mato e o patinho no caminho, chegamos ao nosso destino, o Campestre. Já era perto do meio-dia e o sol já estava bem quente nesse momento, então... hora dos gaviões! O céu aberto do campestre sempre nos surpreende, e dessa vez não foi por menos, além dos gaviões-tesouras e sovis, um gavião-pato repentinamente surgiu e elevou os olhos de todos às alturas. Irônico foi que dois dias depois do pessoal ter deixado o Turvo o gavião-pato resolveu aparecer novamente, desta vez pousado... acho que foi pra reforçar o convite de volta a todos.

Grupo Ave Missões no Campestre, descansando e observando rapinantes. Márcia Koch.

Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus), dois dias após o grupo deixar o Turvo. Foto: DAM.

Ainda no campestre, ouvimos o estalador e o piolhinho-verdoso, mas quem resolveu se mostrar abertamente foi mesmo o gritador. Na volta também avistamos o balança-rabo-leitoso.

Gritador (Syristes sibilator). Foto: Pedro K. Rodrigues.

Na meia tarde ainda fizemos um retorno à estrada do Salto, pois alguns integrantes não tinham avistado ainda o uirapuru-laranja, então...

Uirapuru-laranja (Pipra fasciicauda). Foto: Cláudio Furini.

Depois disso, naturalmente, fomos em direção ao Salto, momento em que topamos com o falcão-caburé e a seguir com o COA-POA, com o qual, mais tarde, tivemos uma agradável janta de confraternização no Balneário Martens. Ainda no Salto, pudemos apreciar a beleza da paisagem e registrar algumas aves interessantes, como um príncipe - raro para a área; um suiriri - primeiro registro nosso para a estação; e um maçarico-pintado.

Falcão-caburé (Micrastur ruficollis). Foto: Pedro Sessegolo.

Integrantes do Grupo Ave Missões no Salto do Yucumã. Foto: DAM.

Confraternização entre Grupo Ave Missões, Fronteira Oeste e COA-POA. Foto: Ezequiel Weber.

Terça, dia 20, encerramos nossa saída com a visita ao Sítio do Furini, à beira da TI do Guarita. Não faltou aquele tradicional assado de confraternização... e também não faltaram os gaviões, especialmente o caracoleiro, que nesse dia foi avistado diversas vezes, porém, voando super alto. Também o gavião-de-cabeça-cinza e o gavião-miúdo foram registrados.

Caracoleiro (Chondrohierax uncinatus). Foto: DAM.

Grupo Ave Missões com a família Furini e seus compadres no Sítio do Guarita. Márcia Koch.

Em certo momento da trilha pela TI do Guarita, presenciamos aquela clássica cena de um caburé sendo incomodado pela passarada. Eram umas 10 espécies, incluindo o pica-pau-anão-de-coleira, o caneleiro-verde e o cais-cais. Foi um momento muito intrigante...

Caburé (Glaucidium brasilianum). Foto: DAM.

Na Guarita também ouvimos balança-rabo-leitoso, pinto-do-mato, e avistamos casais de cuiú-cuiús e sovis, os últimos em atividade de construção de ninho.

Sovi (Ictinia plumbea). Foto: Pedro Sessegolo.

Foi tudo muito maravilhoso e só poderia ser melhor se todos esses meus amigos ainda estivessem aqui... Um ABRAÇO do tamanho do Rio Grande a todos e um MUITO OBRIGADO de coração! Saudoso, me consolo por saber que a espera de nosso reencontro será breve.

Confraternização no Sítio do Guarita. Jurema Furini.

"Meus desassossegos sentam na varanda

pra matear saudades nesta solidão

Cada pôr-do-sol dói feito uma brasa

queimando lembranças no meu coração"

Pôr-do-sol no Turvo. Foto: Adaltro C. Zorzan.

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Veja também:

Turvo 2015 - Parte 1: Inicio
Turvo 2015 - Parte 2: Meio
Turvo 2015 - Parte 3: Fim
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