Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

terça-feira, 21 de maio de 2019

Guarita 2019 - Já estava bom, mas agora parece que melhorou!

Gavião-pato na TI do Guarita. Foto: DAM.
* por Dante Andres Meller
Começou bem, com uma corujada que rendeu um lifer para vários integrantes na sexta-feira à noite.

Depois, com um dia cheio de registros interessantes na trilha do taquaral, o sábado ficou ainda melhor.

Já estava bom, mas no fim parece que ficou ainda melhor, com a visita de um casal de pica-pau-reis no café da manhã, além de outros registros interessantes na trilha de domingo.

Terra Indígena do Guarita, com o rio Irapuá pouco antes da foz com o rio Guarita. Foto: DAM.

Embora a maior parte dos integrantes da saída chegassem ao fim da tarde de sexta, para a corujada à noite, um amigo cruzaltense havia se adiantado e passado a tarde fazendo alguns registros com o anfitrião do Guarita. E a dupla Charles e Furini fez sucesso, com registros que deixaram o resto do pessoal animados.

Pouco tempo depois, já estávamos todos reunidos e, antes de uma janta caprichada, preparada pela Ju, fomos corujar. Além de termos, depois de algum esforço, feito belos registros do murucututu-de-barriga-amarela, também tivemos a impressão de termos ouvido uma coruja-listrada (Strix hylophila), que no entanto não se aproximou com o nosso playback. Ou seja, a confirmação ficou para a próxima, mas o murucutu abrilhantou a noite.

  
Flautim (Schiffornis virescens), tovaca-campainha (Chamaeza campanisona), murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana) & Grupo Ave Missões. Fotos: Charles Boufleur (1, 2 e 4) & DAM (3).

Sábado pela manhã, fomos em direção à trilha do taquaral. Logo no começo, um pavó avistado ao longe na trilha pela Ataiz. Depois, diversas espécies iam aparecendo, enriquecendo nossa lista com representações como andorinhão-de-sobre-cinzento, tiê-de-bando, choquinha-carijó (Drymophila malura), anambé-de-bochecha-parda, balança-rabo-leitoso, matracão (Batara cinerea), picapauzinho-de-coleira, saíra-viúva, piolhinho-verdoso (Phylloscartes virescens), arapaçu-rajado e limpa-folha-ocráceo.

 
 
Andorinhão-de-sobre-cinzento (Chaetura cinereiventris), tiê-de-bando (Habia-rubica), fêmea do anambé-branco-de-bochecha-parda (Tityra inquisitor) & balança-rabo-leitoso (Polioptila lactea). Fotos: Charles Boufleur (1 e 4), Adaltro C. Zorzan (2) & DAM (3).


 
 
Picapauzinho-de-coleira (Picumnus temminckii), saíra-viúva (Pipraeidea melanonota), arapaçu-rajado (Xiphorhynchus fuscus) & limpa-folha-ocráceo (Anabacerthia lichtensteini). Fotos: Alfieri Callegaro (1) & DAM (2, 3 e 4).

Parte da trilha percorrida, chegávamos a uma clareira dentro da reserva, momento em que o céu estava justamente apropriado para os rapinantes. E não demorou muito até que o gavião-pato tenha sido flagrado, em voo junto a alguns urubus. Foi um momento especial, pois era a primeira vez que o víamos com o grupo no local, embora já houvesse sido encontrado por integrantes do grupo em outras situações.

Além deste, também vimos um grupo de quatro cabeças-seca voando, possivelmente em passagem migratória pela região, fazendo deslocamento às áreas úmidas pantaneiras. Curioso é que a espécie, embora nunca houvesse sido observada no local, foi registrada ao longo dos três dias da saída. Além do mais, quando o dia esquenta é momento também para clicar outros seres alados, igualmente belos em suas formas e cores, as borboletas.

  
Gavião-pato (Spizaetus melanoleucus), cabeças-seca (Mycteria americana), borboleta-oitenta-e-oito (Diaethria candrena) & borboleta-comum-de-asa-larga (Heliconius erato). Fotos: Ataiz C. Siqueira (1 e 3) & DAM (2 e 4).

A seguir, adentrávamos a parte mais fechada da trilha. Logo no começo, surgiram aqueles bandos mistos, com gritador e caneleiro, depois também estavam lado a lado arapaçu-grande e arapaçu-de-garganta-branca. A seguir, um casal de marianinhas-amarelas no meio do taquaral, típico hábitat da espécie. 

Fomos adiante, até o ponto em que, em outra oportunidade, junto com G. Bencke e C.N. Kuhn, eu, Furini e Adaltro havíamos registrado a maria-ferrugem (Casiornis rufus), representando o único local de ocorrência para a região noroeste. Chegamos ao local, ouvimos, tocamos o playback, ouvimos novamente e nada. Este, embora seja um registro pouco esclarecido pelas circunstâncias de isolamento, merece novas investidas para ver se a espécie continua pela área, o que, na minha opinião, parece ser bastante provável.

Na volta, encontramos um bando misto onde havia alguns caneleiros-verdes, além do trepadorzinho (Heliobletus contaminatus), que me deixou bastante contente, pois ainda não o tinha observado na Guarita. Depois, quase no fim da trilha, a juruva respondia o playback ao fundo, porém sem sinal de aproximação, mas valeu pelo registro.

 
 
Grupo Ave Missões, arapaçu-de-garganta-branca (Xiphocolaptes albicollis), marianinha-amarela (Capsiempis flaveola) & fêmea do caneleiro-verde (Pachyramphus viridis). Fotos: Charles Boufleur (1 e 2), DAM (3) & Alfieri Callegaro (4).

A manhã chegava ao fim, e uma feijoada pra lá de especial nos aguardava no sítio, onde a Ju era nossa referência quando o assunto era fome.

Pela tarde, depois de uma sesta prolongada, fomos tentar a tovaca na ceva. Não tivemos a mesma sorte, merecimento ou competência que o colega Charles, que já havia ido embora nesse momento. Só apareceram algumas gralhas-picaça, mas sem problema, o chimarrão e as bergamotas nos mantiveram entretidos na ceva que o amigo Furini mantém cuidadosamente no local.

Na noite do sábado não corujamos, o cansaço havia batido e a galinhada do Alfieri foi o atrativo do momento.

Coberto por uma serração, o domingo amanheceria cheio de novidades, começando com um casal de pica-pau-reis que resolveu atravessar o rio e pousar justamente nas árvores do sítio. Foi o suficiente para tirar da cama quem ainda cogitava trocar a passarinhada pelo sono sossegado que as corredeiras do Guarita proporciona.

 
 
Gralha-picaça (Cyanocorax chrysops) na ceva do Furini, Grupo Ave Missões na orla da TI do Guarita, fêmea do pica-pau-rei (Campephilus robustus) & Grupo Ave Missões no sítio do Guarita. Fotos: DAM (1 e 3) & Márcia Koch (2 e 4).

Todos a postos, seguíamos para a última trilha do fim de semana. Era o dia de encarar as subidas que o Guarita tem, mas que normalmente proporcionam bons registros. Desta vez, os amigos Paulo e Márcia também já haviam voltado, e seguimos o caminho na esperança de algum encontro novo para nossa lista (e quem sabe para a reserva).

No começo da trilha, havia um bando misto, com alguns caneleiros-verdes e, uma bela surpresa, um papa-moscas-cinzento, o que para a época foi um registro bem interessante, já que é esperado que migre para o norte no outono/inverno. Mais adiante, vocalizava um falcão-caburé (Micrastur ruficollis), mas sem querer aproximação.

Depois, em uma certa altura da trilha, havia bastante movimento da passarada, sendo que uma trovoada-de-bertoni proporcionou boas observações através das brenhas de um taquaral. Adiante, havia um pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus lineatus) batendo na madeira, um cabecinha-castanha (Pyrrhocoma ruficeps) piando, um negrinho-do-mato cantarolando e um lifer para o Guarita, o piolhinho-chiador, que fez uma aparição rápida, deu alguns piados chiados típicos e desapareceu. Foi o suficiente, porém, para o reconhecer e fotografar.

 
 
Papa-moscas-cinzento (Contopus cinereus), trovoada-de-bertoni (Drymophila rubricollis), negrinho-do-mato (Amaurospiza moesta) & piolhinho-chiador (Tyranniscus burmeisteri). Fotos: DAM (1, 2 e 4) & Adaltro C. Zorzan (3).

Ao sair da trilha, já quase no apagar das luzes, digamos assim, encontramos um bando misto na borda da mata, que, além do gritador capitaneando a passarada, era composto também por saíra-viúva, tiê-preto (Tachyphonus coronatus), caneleiro e um casal de beneditos-de-testa-amarela. Os últimos estavam se alimentando em uma laranjeira e proporcionaram bonitas fotos.

 
 
Gritador (Sirystes sibilator), caneleiro (Pachyramphus castaneus) & macho e fêmea do benedito-de-testa-amarela (Melanerpes flavifrons). Fotos: DAM (1 e 2) & Alfieri Callegaro (3 e 4).

No caminho de volta, topamos novamente com o gavião-pato, que, enquanto tentava se elevar em uma termal, era importunado por investidas de um gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus). Mais um momento especial ao observar essa bela águia-florestal.

A passarinhada chegava ao fim, mas na área do sítio, beija-flores e outros passarinhos podiam aparecer a qualquer momento, então ainda que estivéssemos à vontade, não dava pra facilitar. Surgiam a qualquer momento: beija-flor-de-topete, beija-flor-de-papo-branco (Leucochloris albicollis) e rabo-branco-de-garganta-rajada, este o mais cobiçado por todos nós. Também cantavam alguns gaturamos, como o gaturamo-bandeira (Chlorophonia cyanea), o gaturamo-rei (Euphonia cyanocephala) e o cais-cais. E, um registro interessante, a saíra-preciosa, que é espécie pouco comum na área.

 
 
Beija-flor-de-topete (Stephanoxis loddigesii), rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome), saíra-preciosa (Tangara preciosa) & cais-cais (Euphonia chalybea). Fotos: DAM (1 e 3) & Alfieri Callegaro (2 e 4).

O churrasco final eu não posso relatar como foi, pois tive que ir embora antes, mas tenho certeza que foi caprichado como sempre. Por sorte, na volta ainda tivemos mais um encontro com o gavião-pato. Desta vez, somente eu e a Ataiz pudemos contemplar... e ele deu show! Desceu em voo-mergulho lá do alto até adentrar o fundo do vale florestado. Depois voltou a se elevar em uma termal, ficando abaixo do nível dos olhos no começo, até depois subir novamente ao céu, seu ambiente de domínio. Mais uma visão privilegiada desta bela e imponente águia.

 
 
 
Vista da Terra Indígena do Guarita & gavião-pato (Spizaetus melanoleucus). Fotos: DAM.

Com mais de 120 espécies observadas foi uma excelente saída (veja lista).

Valeu Guarita, já estava bom, mas parece que melhorou!

Um agradecimento especial aos amigos Furini e Ju pela maravilhosa receptividade de sempre! Também a todos os amigos avemissioneiros pelos bons momentos compartilhados.

Um fraterno abraço!
---------------------------------------------------------------------------------
Veja também:

---------------------------------------------------------------------------------

4 comentários:

  1. Relato muito fiel e inspirado, Dante! Parabéns!! As trilhas e matas do Guarita são riquíssimas e proporciona encontros únicos!! Também aproveito pra agradecer ao Furini por nos mostrar as belezas locais e à Ju por todo os esforço que nos foi dedicado!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Adaltro, foi um excelente fim de semana mesmo! Aos poucos vamos descobrindo novidades pelo Guarita. Grande abraço.

      Excluir
  2. Excelente post, parabéns! Belas fotos e impecável relato!

    ResponderExcluir
  3. Muito obrigado pelo comentário Lucas! Grande abraço

    ResponderExcluir