Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O último campo

* por Dante Andres Meller
Gavião-do-banhado observando
uma ananaí ao fundo. Foto: Gabriel Brutti.
A última saída a campo deste ano com o grupo Ave Missões foi justamente no último campo extenso de Santo Ângelo, a Cascata do Comandaí.

Contemplar a beleza das quedas d'água, caminhar pelos louros campos de barba-de-bode e, no banhado da patativa, vibrar com as possibilidades aladas que podem aparecer são alguns dos pontos altos que a capital missioneira tem a oferecer.

Poder compartilhar as riquezas naturais com os amigos de casa e, melhor ainda, apresentá-las aos de fora é algo muito gratificante... eu diria que é mais que um lifer, eu diria que isso é VIVER.

Campos de barba-de-bode remanescentes no Comandaí, em Santo Ângelo. Foto: DAM.

Marcamos de nos encontrar as 7am em Santo Ângelo e, depois de alguns mates e uns ajeites na situação, partimos em direção ao nosso destino mensal, a Cascata do Comandaí. Ainda no trajeto de ida, começaram as primeiras aparições de destaque. Primeiro um avistamento de uma pomba-galega na resteva de trigo, à beira dos fragmentos florestais do Sossego, onde a espécie já havia sido avistada anteriormente também. A seguir, foi a vez de um gavião-do-banhado fazer pose numa bela cena matinal para o pessoal que veio de Santa Rosa e Santo Cristo, foi a primeira recompensa pelo esforço de terem acordado mais cedo que nós santo-angelenses.

Gavião-do-banhado (Circus buffoni). Foto: Débora Kunzler.

Já no Comandaí, na porteira que leva ao campo, após adentrarmos, foram dadas as boas vindas por andorinhas-morenas pousadas nos fios, taperuçus-velhos esvoaçando no céu azul, e corucões, ora camuflados no chão pedregoso, ora voando graciosamente sobre o verde campestre.

Andorinhas-morenas (Alopochelidon fucata). Foto: Ataiz C. Siqueira.

Taperuçu-velho (Cypseloides senex). Foto: Márcia Koch.

Corucão (Podager nacunda). Foto: Ademir Fick.

Seguimos rumo ao banhado, literalmente, num fundão de campo, ponto alto desta saída. Primeiro paramos no capão de eucaliptos para procurar os jacurutus, mas neste dia nem sinal deles. Reparando fotos depois, o Ademir, um dos 4 novos participantes, acabou registrando um ninho de caneleiro-do-chapéu-preto nessa área, um achado bem interessante. Curioso é que dias atrás o mesmo já havia sido registrado pelo mesmo autor em frente à Cascata do Comandaí também.

Casal de caneleiros-de-chapéu-preto (Pachyramphus validus) ao lado do ninho. Foto: Ademir Fick.

Participantes da saída circulando ao redor do banhado do Comandaí. Foto: Márcia Koch.

Chegando no banhado, fomos direto conferir se a patativa-tropeira não havia se "perdido" pra esses lados novamente. A busca, encabeçada pela Adelita, descobridora da raríssima aparição, foi sendo levada a diante, enquanto outras espécies iam aparecendo pelo caminho. Primeiro, e já de praxe, o caboclinho-branco que, embora comum neste banhado, representava lifer para os novos participantes. Depois a tesoura-do-brejo também deu seu show. A seguir foi a vez do curutié e do cochicho também marcarem presença. Ainda houve rápidas aparições da marreca-pardinha, curicaca, narceja e também ouvimos uma sanã-carijó ao longe.

Caboclinho-branco (Sporophila pileata). Foto: Ataiz C. Siqueira.

Tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa). Foto: Márcia Koch.

Curutié (Certhiaxis cinnamomeus). Foto: Ademir Fick.

Cochicho (Anumbius annumbi). Foto: Gabriel Brutti.

O sol já estava bem quente nesta hora e decidimos voltar em direção à cascata. Sabe como é... sombra e água fresca, além de que lá prepararíamos nosso almoço, um modesto churrasco para repor as energias. Momento de relaxar um pouco e confraternizar com os amigos.

Grupo Ave Missões com os novos participantes, Cássio, Ademir, Débora e Gabriel. Foto: Ataiz C. Siqueira.

Disposição refeita, fomos fazer uma breve trilha subindo pela margem do rio Comandaí, onde touceiras de taquara-brava adensam-se pela mata de galeria. Não por acaso as taquaras são mencionadas, é que após 20 anos finalmente elas estão com sementes, ao menos na região das Missões. Outras populações rio-grandenses devem também em breve largar sementes para depois morrer, secar e renascer para um novo ciclo de 20 anos. Embora haja uma expectativa em torno desse acontecimento, não observamos nada de surpreendente em relação às aves ainda. No entanto, a raridade do evento em si já é admirável do ponto de vista ecológico e é um privilégio poder acompanhar o desfecho desse ciclo.

Taquara-brava (Guadua trinii) após sementação. Foto: DAM.

Para finalizar a saída, tiramos um tempo para contemplar a cascata é claro. Tenho a impressão que a cascata está sempre sorrindo e, embora subjetivo, gosto de pensar assim. E digo mais, não é um sorriso qualquer, é um sorriso de verdadeira alegria, em que até a luz dos olhos se enchem de júbilo. O resultado dessa contemplação são pensamentos elevados, provenientes de um coração em estado de gratidão. É realmente uma dádiva da natureza que hajam lugares assim, que eles possam existir para sempre!

Cascata do Comandaí. Foto: DAM.

Nossa saída encerrou com uma lista de pouco mais de 60 espécies observadas (link para lista). Faltou muitas aves que em outras ocasiões havíamos observado, mas isso não é motivo pra desanimar, se não pra querer voltar e reencontrá-las.

Um muito obrigado a todos que contribuíram com a saída, sobretudo aos que participaram pela primeira vez, incluindo os três futuros biólogos vindos de Santa Rosa (Gabriel) e Santo Cristo (Ademir e Débora) e ao pequeno e interessado Cássio, que não só divertiu nossa saída, mas a tornou muito mais especial.

Nos vemos em breve...


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Veja também:

Home... home again!
Lar doce lar
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7 comentários:

  1. Belíssimo post, parabéns ao grupo! Lindas imagens e interessantes registros!

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  2. Parabéns e Gratidão por esse trabalho lindo!!!

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  3. Linda foto da sementação do Guadua trinii. Estamos esperando pela floração desta espécie aqui em Foz do Iguaçu.

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