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sexta-feira, 15 de março de 2013

Falcão-caburé: muito ouvido, pouco visto!

O gênero Micrastur compreende sete espécies de falcões-florestais, todas restritas ao neotrópico e habitantes do interior da mata; são aves discretas, muito reservadas, porém vocalmente ativas [1]. No Rio Grande do Sul ocorrem duas espécies: M. semitorquatusM. ruficollis [2]. Esta última é popularmente conhecida como falcão-caburé [3] ou gavião-caburé [2]. Sick (1997) a descreve como uma espécie esbelta e pouco conhecida, embora não rara em matas densas, secundárias, encontrando-se às vezes perto e até dentro de cidades. Quanto à silhueta lembra um Accipiter, mas tem as asas ainda mais redondas e a cauda mais longa. Têm a íris marrom, a face nua e os pés amarelo-laranjas [4].



Jovem falcão-caburé (Micrastur ruficollis) no Parque Estadual do Turvo. Foto: D. Meller.

Nas partes inferiores, mais sombrias, da floresta, o falcão-caburé caça insetos (p. ex. grandes besouros), passarinhos, lagartixas e cobrinhas. Aproveita-se das formigas-de-correição como batedores e do fenômeno da frutificação da taquara que atrai grandes quantidades de granívoros (ex. Emberizinae e Columbidae). Também caça tinamídeos na mata. À semelhança dos Accipiter, as espécies do gênero Micrastur são verdadeiras acrobatas quando caçam dentro da mata cerrada; sua presença freqüentemente surpreende o caçador mais experiente, podendo arrebatar um inhambu chumbado antes que o atirador consiga alcançar a ave que atingiu. Aproveitam-se também de pássaros presos em redes usadas em anilhamento [4].

Falcão-caburé (Micrastur ruficollis) adulto no Parque Estadual do Turvo. Foto: D. Meller.

O falcão-caburé vive extremamente oculto na densa mata, traindo sua presença apenas pela voz, a qual é normalmente emitida no crepúsculo, pela madrugada ou em dias chuvosos. Seu chamado consiste de um monótono e agudo "kjak" repetido incansavelmente por tempo considerável a intervalos de aproximadamente dois segundos; às vezes entoa de 4 a 6 "kjak" consecutivos [4].

Chamado gravado no Parque Estadual do Turvo por D. Meller.


Uma outra vocalização, o máximo que a espécie pode produzir, é um conjunto de algumas sílabas mais variadas o qual pode classificar-se como canto: "kjo-kjõ-kjó ko ko", às vezes acompanhado por uma estrofe ascendente do companheiro [4].

Canto gravado no Parque Estadual do Turvo por D. Meller.


REFERÊNCIAS

[1] Ferguson-Lees, J. e D.A. Christie (2005) Raptors of the World: A field Guide. New Jersey: Princetown University Press. 320 p.
[2] Bencke, G.A. et al. (2010) Revisão e atualização da lista das aves do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Sér. Zool. vol.100, n.4.
[3] Comitê Brasileiro De Registros Ornitológicos (CBRO) (2011). Listas das aves do Brasil. 10ª ed. Disponível em: Acesso em: [11 de julho de 2011].
[4] Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. 2 ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira. 912 p.

Veja também:

Gavião-pato: mais um encontro com o caçador!

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