Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Altos e baixos em São Paulo das Missões

* por Dante Andres Meller 
Sabiá-poca. Foto: DAM.
Acordar cedo, temer pelo tempo relampejando, receber bom dia da chuva e viajar mais de 100 km...

Coisas que quem observa aves compreende naturalmente.

Foi assim última sexta-feira, quando fomos a São Paulo das Missões, em mais um dia de passarinhada, que acrescentou 10 espécies novas para a lista do local.

A Vila Pinheiro Machado em São Paulo das Missões está cada vez mais abrindo nossos olhos para sua avifauna. A cada ida novas aves são encontradas, com espécies raras em destaque. O local tem um relevo meio acentuado, que permite uma paisagem com diversos fragmentos florestais em continuidade, além de áreas em regeneração.

Matas e vegetação em regeneração na Vila Pinheiro Machado, São Paulo das Missões. Foto: DAM.

Logo depois de chegarmos ao local, e sermos recebidos pelo tradicional café colonial servido pela mãe do Carlos, e um casal de jacuaçus que estava no jardim, subimos o morro e começamos a registrar a passarada.

De cara vimos que muitas espécies migratórias já haviam chegado. Além de termos avistado tesourinha, bem-vi-rajado e peitica, também conseguimos bons registros do caneleiro-preto.

Macho do caneleiro-preto (Pachyramphus polychopterus). Foto: DAM.

Seguindo em frente, reconhecemos o canto de uma espécie rara, que é notável pelo seu longo bico curvo, o arapaçu-de-bico-torto.

Arapaçu-de-bico-torto (Campyloramphus falcularius). Foto: DAM.

Uns pingos começavam a cair e resolvemos voltar, quando ouvimos os piados agudos de um miudinho, que não foi fácil localizar por conta de seu tamanho diminuto.

Miudinho (Myiornis auricularis). Foto: DAM.

Lá de baixo, enquanto tomávamos um caldo de cana preparado pelo pai do Carlos, eu avistei um gavião voando no alto do morro que tínhamos subido. Ahh... não deu outra, voltei e fiz o percurso novamente.

Era um caracoleiro, mas até eu chegar lá em cima o gavião já estava muito alto. O jeito era retornar e torcer por um novo encontro ao longo do dia. Na descida ainda encontramos um bico-virado-carijó, numa circunstância que lembrava muito um pica-pau...

Bico-virado-carijó (Xenops rutilans). Foto: DAM.

O dia ia esquentando, e a chuva já não era nem mais uma ameaça. Fomos fazer uma nova trilha, e subir o morro novamente, é claro! Era hora de encontrar quem eu mais procurava... Subimos o morro, olhamos para cima e um casal de caracoleiros sobrevoava nossas cabeças... um show à parte!

Casal de caracoleiros (Chondrohierax uncinatus). Fêmea à esquerda, macho à direita. Foto: DAM.

Já de volta à casa do Carlos, era hora de almoçar, mas antes resolvi dar uma espiada na figueira que tem no jardim. E não é que eu estava certo. Também, os dois jacuaçus tranquilos da manhã já tinham nos indicado que ali a passarada estava à vontade...

Araçari-castanho (Pteroglossus castanotis). Foto: DAM.

Pós almoço, hora de repousar... que nada! Depois de uma rápida roda de chimarrão, subimos o morro mais uma vez. Queríamos ver mais!

Fêmea do pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus temminckii). Foto: DAM.

Num momento oportuno, depois de andarmos meio perdidos pela mata do local, quase pisarmos em uma serpente não-peçonhenta, topamos com mais uma espécie nova para a área, o vira-folha. Além de permitir uma boa visualização ainda conseguimos gravações de seu canto.

Vira-folha (Sclerurus scansor). Foto: DAM.

Vídeo do vira-folha. Filmado por DAM.

Na última descida do morro topamos com um gaturamo-rei, que vocalizava no alto das copas fechadas das árvores, mas num dado momento apareceu no limpo. No mesmo momento também encontramos mais um réptil, que curiosamente se fingia de morto quando nos aproximávamos.

Fêmea do gaturamo-rei (Euphonia cyanocephala). Foto: DAM.

Lagartixa-das-uvas (Anisolepis grilli). Foto: DAM.

Subidas nunca são fáceis, e nesse dia por quatro vezes subimos e descemos morros, tudo em busca das aves. É também curioso como as próprias aves parecem também fazer esses deslocamentos, muitas descendo para se alimentar nos pomares das casas que ficam na baixada, e subindo para repousar nas matas do alto dos morros.

Depois dos esforços das subidas, nada mais recompensador que o ponto de vista privilegiado que temos. Talvez seja por isso que os gaviões gostam mesmo é das alturas...

Alfieri, Carlos e Dante em São Paulo das Missões. Foto: A. Callegaro.
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12 comentários:

  1. Muita riqueza nesta região, hein! Parabéns pelo ótimo relato como sempre. Abração

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    1. Valeu Charles!!! Muita coisa mesmo... e deve ter outras ainda por descobrir. Abraço!

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  2. Que legal. Arapaçu de bico torto, Gaturamo rei, Caracoleiro. Seriam tudo lifers pra gente. Quem sabe uma hora destas a gente participa de uma saída aí com vocês.
    Abraço
    Rafael Ritter

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    1. É mesmo Rafael, agora me dei conta que vocês procuravam esse arapaçu. Em janeiro haverá um saída com o grupo nesse local, quem sabe vocês aparecem aí... Abraço!

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  3. Dante,trabalho bonito e importante que vcs estão realizando.Me impressiona que consigam capturar a existência de tantas espécies com tão poucas áreas para abrigá-las.Moro quase beirando a Mata Atlântica remanescente no extremo sul da Bahia e mesmo aqui as espécies estão rareando.O Araçari(que deve ser um tipo de Tucano) aparece para comer os coquinhos de açaí.Mas eu queria saber de duas espécies que eram costumeiras quando morei aí,em Caibaté e São Luiz Gonzaga,entre 1950 e perto do fim da década de 1960:as Tesourinhas e os Tesourões,que se assemelhavam mas eram antípodas na nossa admiração-as pequenas tesourinhas afugentavam os predadores muito mais fortes.Ainda existem?

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    1. Olá João... Quanto às tesourinhas e tesourões, hoje em dia as tesourinhas são comuns ainda, mas os tesourões (conhecidos em nosso meio por gavião-tesoura) estão raros, comuns apenas nos maiores fragmentos florestais. Ambos são migratórios, ocorrendo só na primavera/verão. Obrigado pelo comentário! Um grande abraço!

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  4. Belas fotos , parabéns ! Ótimo registro do Caracoleiro e do Vira-Folha !!!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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  5. Sempre é bom passarinhar com quem entende na minha terra natal!!!

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    1. Que nada, sempre é bom passarinhar com anfitriões gente boa!! Grande abraço!

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