Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Passarinhando nas florestas missioneiras

Estalador em São Miguel. Foto: Cláudio Furini.
* por Dante Andres Meller
É verdade que a região das Missões sofreu um desmatamento exagerado ao longo de sua ocupação.

Também é verdade que ainda sofre perda de habitat com a instalação de hidrelétricas e a expansão agrícola.

Poderíamos pensar que, por conta disso, não sobraram muitos atrativos naturais, mas o que nossos olhos têm visto...

Vista das ruínas de São Miguel das Missões desde a Fazenda Estância Velha. Foto: DAM.

Visitar São Miguel das Missões é sempre inspirador. O local é recheado de história, cultura e arte. Em relação à natureza, São Miguel encontra-se numa transição disputada entre as florestas da Mata Atlântica e os campos de barba-de-bode do Pampa. As lavouras tem a cada ano aparecido mais e mais, mas ainda restam refúgios naturais à nossa fauna e flora.

Essa saída a campo se afirma a cada ano entre as escolhidas pelo Grupo Ave Missões, sempre revelando algo surpreendente. Esse ano resolvemos ampliar a saída para dois dias, incluindo uma visita vespertina ao Santuário do Caaró. Foram mais de 100 espécies observadas (confira a lista), revelando São Miguel e o Caaró como bons locais para o turismo missioneiro de observação de aves.

Integrantes do Grupo Ave Missões com o Sr. Bruno e seu capataz na Fazenda Estância Velha. Foto: DAM.

Nosso roteiro começou sábado pela manhã, com uma visita à Fazenda Estância Velha, que inclui parte de um grande fragmento florestal a que denominamos Mato do São Lourenço, e que já havíamos visitado brevemente em outras vezes. É um fragmento expressivo, com centenas de hectares, permeado por campos, a alguns poucos quilômetros das ruínas.

Junto com o proprietário, Sr. Bruno, passamos a manhã percorrendo o mato e logo logo as surpresas nos deixaram boquiabertos, com grande destaque para o estalador, presente em bons números ao longo do mato, e um gavião-pernilongo, que esperamos fotografar em uma próxima vez. Também fotografamos o tangará e o vira-folha, e ouvimos balança-rabo-leitoso, guaracavuçu, bico-virado-carijó, entre outros. Na parte dos campos ainda nos deparamos com um casal de marreca-pardinha nadando abertamente em um açude, e pra finalizar o surucuá-variado, símbolo do Ave Missões, nos presenteou com uma bela aparição.

Estalador (Corythopis delalandi), espécie ameaçada de extinção no RS, registrada em São Miguel das Missões. Foto: DAM.

Macho do tangará (Chiroxiphia caudata) em São Miguel das Missões. Foto: Cláudio Furini.

Vira-folha (Sclerurus scansor) em São Miguel das Missões. Foto: Paulo B. Rodrigues.

Marreca-pardinha (Anas flavirostris) em São Miguel das Missões. Foto: Cláudio Furini.

Macho do surucuá-variado (Trogon surrucura) em São Miguel das Missões. Foto: DAM.

Encerrada a manhã, fomos almoçar no Hotel Tenondé, onde também ficamos hospedados. Após uma breve sesta, partimos para o Santuário do Caaró, onde passarinhamos ao cair da tarde e também começo da noite. A atividade não foi tão produtiva, especialmente em relação a espécies noturnas, representadas unicamente pela corujinha-do-mato, mas tivemos surpresas agradáveis ainda durante o dia.

Pouco antes de chegar ao Caaró, em uma lagoa à beira da estrada, encontramos casais de veste-amarela e tesoura-do-brejo, além de um bando de tipios. No Caaró, a surpresa foi registrar uma iraúna-grande tentando depositar seus ovos no ninho de um guaxe. Foi um momento daqueles! Ver a iraúna esperando a ocasião oportuna, e os guaxes inquietos com a intrusa, nos fez melhor entender alguns conceitos ecológicos estudados, mas pouco observados na natureza.

Casal de veste-amarela (Xanthopsar flavus) na chegada ao Santuário do Caaró, em Caibaté. Foto: Cláudio Furini.

Tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa) na chegada ao Santuário do Caaró, em Caibaté. Foto: Cláudio Furini.

Fêmea de iraúna-grande (Molothrus oryzivorus) no santuário do Caaró, em Caibaté. Foto: Cláudio Furini.

Corujinha-do-mato (Megascops choliba) no Santuário do Caaró, em Caibaté. Foto: Paulo B. Rodrigues.

Após chegarmos para janta e pouso no Tenondé, ainda avistamos uma coruja-de-igreja e ouvimos, praticamente a noite toda, o peixe-frito-pavonino, cantando de forma surpreendente nas matas ao lado do hotel. Pela manhã tentamos localizá-lo, mas ele não se mostrou. Partimos então para o destino de domingo, a Fazenda da Laje.

Após tomarmos café na fazenda, decidimos ir para o Mato do Piratini, outro grande fragmento florestal nos arredores de São Miguel. O tempo estava ameaçando chuva, mas, encorajados, seguimos em frente. No começo da trilha, após ouvirmos algumas espécies mais comuns, como pi-puí e tororó, um canto diferente nos chamou atenção. Levou alguns instantes, mas logo a ficha caiu... piolhinho-verdoso! A aproximação dele ao playback não deixou dúvidas, e vibramos com a incomum aparição. Ao longo da trilha também registramos o pica-pau-anão-de-coleira e ouvimos outras diversas espécies, como o pica-pau-dourado, a marianinha-amarela e um provável grupo de papagaio-charão, que não pôde ser confirmado.

Piolhinho-verdoso (Phyllomyias virescens) em São Miguel das Missões. Foto: DAM.

Pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus temminckii) no Mato do Piratini, em São Miguel das Missões. Foto: Cláudio Furini.

Vista panorâmica do rio Piratini, no Mato do Piratini, em São Miguel das Missões. Foto: DAM.

Ao término da trilha matinal voltamos para a sede da Fazenda da Laje, onde nos esperava um típico churrasco missioneiro. Devido à chuva, tivemos que cancelar a atividade da tarde, que incluiria uma caminhada ao longo dos campos e matas ribeirinhas da fazenda.

Finalizávamos então mais uma saída a campo com o Grupo Ave Missões, tendo contado com a presença de 9 pessoas, com destaque para o casal portelense, Cláudio e Jurema, pela primeira vez visitando a região das Missões para passarinhar.

Grupo Ave Missões na Fazenda da Laje. Foto: Jurema Furini.

Obrigado pela participação de todos, se Deus quiser nos vemos novamente no Turvo em setembro!

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11 comentários:

  1. Parabéns amigos, é um lindo trabalho!!! Abraço

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    1. Obrigado Dani, sentimos falta do pessoal da Fronteira Oeste! Abraço!

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  2. Belíssimo relato, Dante!! E que alegria ter encontrado tantas espécies (e que renderam belas imagens), o que sempre renova as esperanças dos amantes da natureza!!! Abraço!!

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    1. Obrigado pelo comentário e pela participação no domingo Adaltro! Na matas da região das Missões deve ter muita coisa ainda a ser descoberta... Abraço!

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  3. "Xôu" de bola, Dante! :) ... como sempre!

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  4. Beleza as imagens, em especial este encontro com o Estalador, um excelente registro que acende a esperança de encontrá-lo em outros lugares. Parabens ao grupo e com certeza no Turvo estaremos juntos, onde estou prevendo grandes encontros!!

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  5. Belas fotos e incrível relato , parabéns ao grupo !!!

    Ass.:Lucas N. de Porto Alegre - RS

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  6. Convidamos para virem passarihar em São Borja, Pousada do Sítio Preserva. Temos mata nativa, restinga, próximo ao rio Uruguai. www.sitiopreserva.com.br ou https://www.facebook.com/PousadadoSitioPreserva/

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